quinta-feira, outubro 23, 2008

眼睛 ou 早晨好太陽,早晨好生活

10:40. acordava, mas os olhos permaneciam fechados. sabia que do lado de fora havia luz. mas parecia que manter os olhos fechados impediria que os sonhos escapassem. como se pelos olhos aquelas imagens fugissem. ah, os olhos. do lado de fora certamente havia luz, mas as pálpebras eram mantos negros e pesados. não impediam os sonhos de fugir, já era tarde. abria os olhos e olhava, como se isso não fosse natural e impossível de impedir. olhava e via tudo embaçado - o nome científico era miopia e astigmatismo. pensava por três segundos - o que em tempo de pensamento é uma eternidade. olhava e via tudo embaçado e pensava por três segundos porque seu sonho tão real e vívido e tão desembaçado de tudo onde podia voar correr amar ter tudo ou nada e flutuar ou respirar na água, porque aquela imagem tão nítida de cores tão fortes, porque aquilo que escapou dos seus olhos ou ouvidos ou do primeiro respirar de quando se acorda, porque aquilo não era e o que era era aquela imagem borrada de si mesmo da janela da persiana de alguma coisa que reconhecia mesmo sem ver no seu quarto? porque o que era era a imagem desfocada, sem os contornos e as cores e sem as certezas? porque o que era era aquilo que ele reconhecia mesmo sem ver? se acordasse em timbuktu, o que era seria estranho, não reconheceria nada. pensou por meio segundo e viu que em tumbuktu tudo lhe é estranho. mas ainda assim, tudo que não é o que ele reconhece sem ver, porque isso era o que era e não o seu sonho onde podia voar correr amar ter tudo ou nada e flutuar ou respirar na água e ter uma casa com ela um macaco e um gato chamado rex? porque ver de verdade lhe tinha sido arrancado do rosto ou dos olhos ou dos ouvidos ou do primeiro respirar de todos os dias?

10:40. acordava, os olhos e as mãos procuravam os óculos. o despertador. o remédio. engolia com a água que deixara descansar a noite ao lado da cama. olhava pela janela e de uma persiana via a luz que entrava em feixes paralelos. bom dia sol. bom dia vida.