segunda-feira, outubro 15, 2007

armengando o puxadinho

já tinha uma paima de pó cobrindo o tampo dessa bodega, resolvi fazer faxina.


UPDATE: agora tem até feed, é muita modernidade.

segunda-feira, setembro 24, 2007

fiz uma recaptulação histórica da minha vida e descobri que se algum dia eu resolver fazer um livro sobre 2004 ele poderia ser chamado "Duas Mil Dicas Sobre O Que NÃO Fazer da Sua Vida, Volume I".

seguido, é claro, do Volume II com mais umas duas mil outras dicas, e o segundo semestre.

segunda-feira, agosto 27, 2007

saio em silêncio pra fumar um cigarro e por detrás do meu muro um cachorro investe contra outros cachorros presos em suas grades e por um segundo me pergunto se ele desdenha de todos por ter todo o mundo sob suas patas ou se ele inveja a prisão de um cafuné eventual.

as últimas tragadas sempre são as mais amargas.

quarta-feira, agosto 22, 2007

hoje queria deitar em minha cama e só me levantar quando tivesse a certeza de que o mundo não iria sentir o peso dos meus passos.

terça-feira, agosto 21, 2007

enquanto escrevo a minha vida não é cada palavra que escolho que me constrói, mas sim o espaço em branco que eu deixo depois de cara vírgula. de cada ponto. depois de cada texto escrito. é o espaço em branco que eu mancho com letras e o silêncio que destruo com cada som de minha boca. e cada som que faço só me diz que existe um silêncio cada vez maior. seja uma folha, seja uma tela limpa, seja o próprio tempo, o que falta ser é aquilo que mais faz de minha vida aquilo que ela não é. se entre ficção e realidade sempre estou eu, as mentiras e verdades de minha vida nada mais são do que o reflexo de cada cor que pinto no vazio. em cada palavra existe uma promessa de controle, existe o autor que indica o caminho, seja qual for o autor que que encarne a pena, seja qual for o caminho que a contingência e a aleatoriedade escolha. e se essa promessa de controle está na ficção, cada espaço em branco que se segue é do domínio da realidade. e em cada realidade, o presságio de que somos um espaço fora do espaço, de que estamos num tempo fora do tempo, se expressa no que deixo de falar, no que deixo de escrever. enquanto escrevem minha vida, cada palavra que escolho não fui eu quem inventou, não sou eu quem as uso, mas é o espaço em branco que vai ser maculado que constrói tudo o que há de ser dito.

e se em cada promessa há a certeza da quebra, não sou eu quem diz. é o silêncio.

sábado, maio 19, 2007

tenho sentido cheiro de carniça, de algo morto, que me persegue onde vou. um cheiro que não entra pelas narinas, mas, pelo contrário, sai delas. sai da minha boca. dos meus ouvidos. dos meus olhos. sai dos meus poros como o suor de algo morto que se cansou dentro de mim. mas esse cheiro que sinto não confirmo, não vejo onde está esse cadáver e ignoro o gosto de morte que me acompanha. tenho sentido cheiro de carniça, de algo podre, mas não sei onde está. por sentir por dentro, suspeito que está em algum lugar em mim. mas esqueço as vezes e fico procurando com os ouvidos o som de algum coração parado, nessa ou naquela ruína que caminha do meu lado. sinto cheiro de algo morto mas ninguém mais sente, ninguém pergunta, ninguém se incomoda. penso que é como uma fossa que só é notada quando estoura. como o esgoto de um bairro inteiro, represado em uma folha de papel. às vezes procuro com as mãos alguma rachadura em meu corpo, com medo e esperança de achar. o sentido do paradoxo é não ter sentido, mas esse tipo de sentir eu não acho com meu nariz.
acendo um cigarro e se em silêncio isso só serviu para aplacar uma ansiedade qualquer, adiantaria menos estar com ele aceso e intercalando uma tragada e outra com as vozes que saem de mim. estou sozinho com todas as vozes e elas não me dizem nada, quer eu esteja falando ou esteja apenas assistindo a fumaça ascender contra esse céu acizentado. que essa fumaça se junte com o peso do céu que cái e se sinta lá acomodada, não importa... a luz da brasa que a constrói não ilumina caminho algum. se eu pudesse sentir a chuva, sentiria apenas algo molhado e frio. eu não lembro se lágrimas são frias ou quentes, mas lembro que o sal que à elas dá o gosto é o mesmo que mata a terra e dela impede que algo cresça. se inspiro papel queimado, nicotina, benzopireno, nitrosamina, polônio 210, carbono 14, dicloro-difenil-tricloroetano, benzeno, chumbo, cádmio, níquel, arsênico, cianeto hidrogenado, amônia, formol, monóxido de carbono e mais de quatro mil setecentas e dez substâncias venenosas e cancerígenas e que um dia hão de me matar, não importa. acendo um cigarro e em silêncio vejo o céu despejar apenas água enquanto sopro apenas fumaça.

essa noite quero matar as metáforas.

sexta-feira, março 16, 2007




"o único acontecimento traumático de minha vida foi meu nascimento, o resto foi só um preparo pra morte". tinha se assustado por pensar nisso com tão pouca idade. não só por pensar, como por ter chegado a escrever com sua letra errática em sua agenda, como se fosse uma frase de grande efeito, um pensamento basilar para a epistemologia de toda sua ciência até então. nesse momento, de assustada passou a se sentir um pouco envergonhada. mas bem, era a pouca idade. e agora que definitivamente estava morta, todas essas pequenas coisas, todas essas grandes coisas e todas as outras coisas que circulam entre as pequenas e as grandes perdem um pouco do sentido. ou melhor, o sentido ainda estava lá. mas esse é o ponto: o lá já estava bem distante. divagou um pouco sobre esse pensamento mas logo lembrava da agenda. não era grande coisa, era mais uma agenda de brinde, pequena, preta, com uma pequena fita amarela para marcar as páginas. como se uma agenda fosse um livro e você não se perdesse no tempo da agenda. começou a divagar sobre o tempo e lembrou. lembrou que na verdade essa agenda já não servia quando passou à escrever, já estava 4 anos atrasada e arriscou ter uma certeza: não era terça-feira no dia 9 de janeiro do ano em que resolveu postular seu grande pensamento. isso era uma obviedade que só depois da morte pode ter algum sentido em se atentar à isso. os anos são cíclicos, é verdade, mas os dias da semana são de outra ordem. e de que importa se agora o tempo nada mais é na sua mente do que a lembrança do grande relógio dourado do seu pai, e a sensação do tempo não mais existe? arriscou ter mais uma certeza: nessa terça-feira do dia 9 de janeiro do ano da agenda, não pensava na frase que ali estava registrada. e todo o seu pensamento de ter se preparado para a morte desde que nasceu já tinha perdido mais ainda o sentido, não sabia se era porque agora definitivamente estava morta e esses pensamentos no momento de nada serviam, ou se era porque procurava ainda uma consistência que nunca teve enquanto era viva. notou que estar vivo é ser inconstante, mas essa é uma briga consigo que ninguém assume e divagou um pouco sobre isso, como se fosse uma iluminação, mas logo passou à pensar em outra coisa, pois não tinha mais importância. tentou lembrar o que ela tinha feito ou pensado na terça-feira, dia 9 de janeiro do ano da agenda e o que tinha mudado quatro anos depois, se é que tinha mudado alguma coisa. talvez seja alguma característica da memória dos mortos, mas não lembrou, como não lembrava direito de nada que tinha de diferente entre os quatro anos que se passaram do dia que ganhou aquele brinde da empresa onde o pai trabalhava e o dia que sentou-se sozinha em seu quarto e decidiu escrever em sua agenda. talvez tenha perdido quatro anos, mas lembrou que na verdade isso pouco importava. não porque agora estava morta, mas porque se o único acontecimento traumático da sua vida foi o seu nascimento, porque no dia que tinha ganhado aquela agenda ela não foi atropelada por um caminhão e tinha morrido quatro anos antes de notar isso?


domingo, janeiro 07, 2007

quando eu sento pra escrever qualquer coisa que seja eu tenho a exata medida do que quero escrever e a certeza absoluta de que não vou conseguir dizer nada disso. ainda assim, se eu continuo escrevendo, que porra que eu quero, então? se no espaço entre o que eu quero que saia e fica e o que acaba sendo vomitado sem querer existe qualquer razão desconhecida pra se tornar esse amontoado mal arrumado de palavras, eu sempre imagino que isso não me alimenta, só me devora. e que porra eu quero então?

um dia ainda consigo me dizer.