sexta-feira, agosto 22, 2014

entropia

resgatar o que as pessoas têm de positivo, acreditar sempre no melhor de todo mundo e defender quem já me fez mal por acreditar que fazer o mal é um lapso e não caracteriza uma pessoa sempre foram políticas minhas que eu considerava cláusula pétrea na minha constituição de como lidar com o mundo. mas as vezes a gente precisa tomar uma porrada na cara - da vida, ou de gente nada a ver - pra acordar que existem coisas que escapam o campo de "moralidade" que a gente estabelece pro mundo.

as vezes vão aparecer pessoas que faltam caráter ou maturidade e que por alguns momentos me fazem me sentir idiota de sempre tentar procurar o tesouro que cada um pode esconder em si. infelizmente eles vencem por um dia, dois ou uma semana, e eu me jogo no círculo vicioso de negatividade que sempre fui extremamente contra. mas eu não posso esquecer que sou responsável apenas por como trato o mundo, e não como o mundo me trata. e não revidar uma agressão não é covardia. evitar de fazer mal pra alguém que te faz mal não é falta de pulso. é simplesmente tentar evitar que esse mundo escroto e selvagem que a gente vive domine os meus atos e que eu seja um veículo de reprodução dessa podridão.

masoquismo com a própria cara é triste, mas acontece. mas masoquismo com a cara dos outros é sadismo, e isso o melhor a se fazer é cortar de vez de nossas vidas.

o amor é uma energia que você deposita nos outros, mas as vezes não dá. mas manter o amor que existe em você, respeitar a entropia, e canalizar esse amor pra outros lugares sempre vai ser uma opção triste, porém necessária.

ficam as lições, e o couro mais duro pra superar essas coisas que nos fazem pra nos machucar. mas no final, eu vou seguir e superar, e continuar semeando toda quantidade de gente maravilhosa que eu consegui conhecer e ter como amigos na minha vida. esses ficam, e me ajudam a sempre acreditar que tem gente incrível no mundo, e esses vão ser os guias, as âncoras e os faróis pra tudo de mal que pode nos acontecer.

sábado, agosto 16, 2014

ventrículo esquerdo

a minha sorte é que sei dormir. sei dormir e esquecer. e acordo como quem volta de uma viagem, trazendo a lembrança que a saudade não apaga, deixando pra trás o pó da estrada e as farpas do chão de casa. sei dormir e acordar lembrando apenas do que de bom eu deixei na noite anterior. por isso não sonho. não quero inventar histórias mais, quero apenas dormir. e esquecer. e acordar. 

e minha sorte é que sei dormir. e durmo em qualquer lugar. na cama, no chão. no sofá. na cadeira, segurando a mão de alguém. no metrô, pensando bem.  sem sonhar. apenas dormir. e esquecer. e acordar.

e de cada mundo novo que descubro à minha frente, ainda sonolento e confuso, sempre aparece o sorriso que deixaram. o elogio que me enrubesceu. aquele carinho velado ou exposto, que aqueceu mais que esse edredom cheio de mim. durmo ofendido, acordo agradecido. deito coberto de um choro longo, acordo com a vontade de lembrar o que foi mesmo que me fez tanto rir antes de dormir. e esquecer. e acordar.

mas as vezes a noite é fria. como essa hoje. e frio frio frio o vento castiga o meu sono. e não durmo. não esqueço. desisto de acordar e fico preso. sou o mesmo de ontem ainda. e ainda lembro. não pode ser assim, pois das minhas sortes, uma eu sei: é que sei dormir.

abraço o travesseiro, não tem outro jeito. enrolo cada dedo de um pé no seu irmão no outro. penso baixinho que a sorte existe, e sou assim. penso que estou lá dentro, quente. vivo. pulsando. batendo. bombeando sangue pro resto do mundo. um coração me abrigando. e me cubro de cúspides. me aninho no átrio. estou com sorte, pois sei dormir. e durmo.

mas esse frio frio frio. acordei num quarto vazio. e ainda lembro.

não pode ser assim.