segunda-feira, dezembro 29, 2003

vai, esse é o último do ano.

depois de um desastroso natal, tomara que o ano novo seja interessante. não que eu vá aqui despejar desejos, planos, re-so-lu-ções, enfim, qualquer coisa que faça parecer que eu ache que ano novo é alguma coisa, afinal, é só mais um feriado, é só o dia internacional de trocar de folhinhas e de agenda, é só o dia de vestir branco, beber champanha e cumprir rituais esquisitos, é só uma quarta-feira como qualquer outra. o dia é o mesmo, as pessoas que ficam diferentes.

mas desisti de passar no ano novo um repeteco do natal cama-mesa-banho-internet-jamie-oliver-na-tv. e já me custou caro por isso. dez de reáu, R$10,00, dez contos, dez pais, dez coins. mas vale a pena, é pra bolo, lasanha, salgadinho e vódega êslouva no gárgalo. e mais prêmio krakóvia pra embalar a risadagem (eu tou concorrendo, torçam por mim). reveilão hedonista é o que eu quero e se já paguei dez tocos, eu hei de ter!

(instant resolution de fim de ano #1: ver 2004 chegar na esbórnia, debaixo dos fogos da orla.)


não tem nem o que desejar para 2004 para mim. porque não é porque o calendário comemorativo da DESO em homage ao Florival Santos vai sair daqui da mesa e talvez dar espaço para um calendário da Emsergás ou da CODISE que o ano vai ser melhor. a universidade ainda continua do meio, minha fossa ainda continua do último episódio e não vai ter mais filme do senhor dos anéis.

ainda assim, um bom 2004 pra vocês. se esbaldem em seus reveilões. aproveitem a quarta-feira.

(ah! e antes que eu esqueça: instant resolution de fim de ano #2: ver aline pelada)


sexta-feira, dezembro 26, 2003

então você se joga de cabeça rumo ao fundo do poço. e já não bastava a angústia de todo o tempo que demora pra você chegar ao fundo, quando o seu corpo bate no solo, você ainda ouve aquele ruído oco. "ué, mas não é aqui o fundo do poço?". no fundo do poço tem um poço. tem um poço no fundo do poço.

quarta-feira, dezembro 24, 2003

feliz natal



a equipe do Ai! Minha Santa Aquerupita! deseja a todos um bom natal.
coisa que a equipe do Ai! Minha Santa Aquerupita! vai tentar ter a partir de agora.

faça o seu em www.JesusDressUp.com


só quando esses feriados chegam perto que você nota o quão danoso são os filmes de Meg Ryan. porque não é só por causa que o mocinho olhou no olho da mocinha que tem que rolar beijo. e no final não necessáriamente você é a Meg Ryan beijando o Mathew Broderick. você pode ser o cara todo engessado, falido, abandonado e empolado de alergias.

e o pior: sem ninguém pra te coçar.

é cata, tirei de nossa conversa e valeu pela correção.

segunda-feira, dezembro 22, 2003

eu não aguento mais ficar rasgando, arrancando, quebrando e esmagando cada pedaço que sobrou da minha vida. e não aguento mais ter que aguentar todo o tranco, toda a força, toda essa coisa que vem vindo e chega sem eu querer nem esperar. e fica cada vez mais fácil e comum sair dos eixos, perder a cabeça numa coisa qualquer. é melhor me perder em álcool e ter que ser o bobo da corte e ter que divertir, porque só assim - talvez por osmose - eu me divirto e consigo ver além do palmo de escuridão que embota a minha vista e que me impede de ver futuro, saída, ou luz no fim do túnel. pois então que seja assim, porque se dá pra se afastar cada vez mais de mim, que eu me afaste. que eu esqueça quem eu sou, porque continuar sendo isso dói demais e me deixa cada vez mais angustiado. ou aterrorizado, para ser mais dramático.

e qualquer coisa mais escapista fica fadada a ter milhões de olhos e milhões de bocas perseguidoras, porque o tal "cárcere do ser" (obrg déba) fode neguinho adoidado, mas tentar sair disso é dar a cara à tapa e o cu à pica porque sabe-se lá com qual razão cada um que te rodeia é teu carcereiro e sua âncora afundada na lama. e é preciso desprendimento, porque são todas as referências de uma vida inteira, todos os sonhos de uma pessoa e todos os planos de seu esquema. mas vá lá, isso não é nada pra quem já teve de se despojar de tanto peso na alma, pra quem teve de jogar todas essas coisas fora isso não é nada trabalhoso não. o pior é tentar continuar, porque sonhar no futuro do préterito parece poético, mas a tristeza só é esteticamente bonita pra quem vê de fora as modelos magras-secas-de-lápis-no-olho fazendo biquinho e se dizendo chorosa "ai como sou triste". mas eram tanto sonhos bonitos, tantas coisas felizes, tanto tempo pensado e esperado. mas às vezes caí a luz no meio do filme, e só resta esperar com uma vela sozinho no escuro até que a luz volte a tempo de você não perder o final feliz.

mas cá entre nós, de que vale esperar o final feliz se você já nem sabe mais quem ficou com quem, como o mocinho conseguiu pegar o bandido, e que enquanto o filme rolava e as coisas se ajeitavam, você estava no escuro, sozinho, com uma vela na mão e com medo de ver se o problema é na caixa de energia e morrer eletrocutado?

enfim, tudo desandou e eu estou com medo.
larguem da minha mão.

domingo, dezembro 21, 2003

preocupações russas

quase alcançando o vigésimo primeiro ano de vida e sem um lampejo de vida que fosse mais brilhante que o mediano, o padrão. porque cada vez mais eu me preocupo com coisas que não deveriam preocupar pessoas como eu. preocupações do século passado, preocupações russas. porque eu sei deep inside que me falta aquele lampejo que faz as pessoas brilharem mais na multidão, aquela faísca que se lança da alma das pessoas em direção das coisas que elas fazem. me falta a originalidade que fazia falta aos meus queridos russos, me falta a genialidade que fazia inveja nos meus queridos russos.

e o que faz isso doer ainda mais é porque eu sei, e não é prepotência, que eu sou inteligente, ou que pelo menos não sou um absorto inerte. meu teste de q.i. me dá provas irrefutáveis de que pelo menos eu tenho algo aqui na cachola, batendo-se contra a caixa craniana. mas esse algo não passa nem de ser um potencial, nem um talvez. e isso me angustia, porque pra quem já não tem o good looks, uma boa cabecinha superior e pensante faz uma falta angustiante. claro que todo mundo quer ser um jênho, e eu talvez não seja nem original nisso.

mas talvez ser um cabeção me incomodasse ainda mais. porque eu penso muito e pensar muito leva à dores de cabeça e reservas morais desnecessárias. um "foda-se" cairia muito bem agora.

então, pra tudo e pra todos:

FODA-SE


quarta-feira, dezembro 17, 2003

eu gosto de escrever contos. desses bem pequenininhos, de uma página de caderno. e gosto especialmente de escrever durante minhas aulas, quando nem ao menos meu corpo fica quieto na sala, quanto mais minha cabeça. mas esse especialmente é um conto estranho, porque foi começado no semestre passado em uma aula de psicopatologia geral, e terminado no meio de uma aula de psicologia e linguagem. tirando o gap que temporal, você pode achar que não faz diferença alguma, mas faz sim. os intuitos são diferentes quando você voa em uma aula de psicopatologia geral e quando você voa em uma aula de psicologia e linguagem. mas isso é assunto para outro post. enfim, é um texto torto, desafinado, fora de tom. porque os contos podem ser assim. desafio vocês encontrarem onde é que o texto foi continuado.

quedava-se por aquele sentimento. gostava de dizer: sou assim! sou feliz! sou, sim! e saia de um canto a outro, sempre a afirmar que era, e era!
era assim que subia o mundo, nem tão restrito às minhas ladeiras e becos e quebradas. subia como numa roda-gigante, girando a dizer que era assim feliz, sim. e era! porque não?
saia a pinote, abria os braços, voava. de cá a cá, de lá a lá. sobrevoava as casas, os prédios, as cisternas e caixas-d'água, a cidade toda. e era assim, porque não fazê-lo?
caia no chão, ralava o joelho. lágrima? não! arretado que era, batia no peito, engolia seco, abria a boca a gargalhar! ?sou assim! sou feliz! sou sim!?. e raspava o chão num rasante veloz. era sim, e todos viam!
a mãe era doce. queixava-se dele, mas normal. porque menino que voa não é mole não! e os pés fincados em raiz no chão a impediam de ver, e crer, que seu filho era tão mais que os outros, tão feliz, que largava as pernas na rua atrás de bola, dançava rindo no ar e fazia gol de cabeça em qualquer jogo que se metia na vida.
das minhas ladeiras e becos e quebradas eu o observava. e com a mesma intensidade que ele dizia orgulhoso que era feliz, sim, eu sentia no peito o aperto que o peito sente quando a vida não nos presenteia com o dom de voar. porque meus pés pequenos e rachados de topadas e pedrinhas da rua não dançam no ar nem brincam com a gravidade. só largavam vôo pra brincar de amarelinha.

sexta-feira, dezembro 12, 2003

eu não consigo escrever. agora sim eu travei definitivamente.
e com duas balas no pente ainda, ou dois pedaços de texto salvos em draft, durante tentativas ridiculamente frustradas pela minha incapacidade de focar e deixar as palavras fluirem apenas. nem um texto na minha querida técnica de vomitar palavras aleatóriamente sai.

não é um texto de desculpas, porque nem isso eu conseguiria escrever. travei, só falta surtar.

quarta-feira, dezembro 10, 2003

foram apenas 72 horas. tempo suficiente para alguns insetos cumprirem seu papel na terra e deixarem sua marca invisível num canto qualquer de um lugar qualquer. tempo suficiente para as amebas se multiplicarem em gerações e gerações de amebas que pontualmente se mostram o quão inócuo é o tempo para certas coisas.

porque o tempo é inócuo para dizer chega pras mudanças que não dão tempo para eu mudar. ou pelo menos me acostumar.

e então você acorda e dorme em 72 horas o tempo suficiente para perceber que nem sonhar interessa quando a vida é um devaneio maior ainda do que seus sonhos regados a tubarões voadores, baratas gigantes e mortes repetidas ad infinitum . e você acorda e vê o dia começar o mesmo, mas de um jeito diferente. você acorda no mesmo corpo, com a mesma alma de ontem e anteontem e estrutura cognitiva intacta, mas num mundo que é o mesmo e não é ao mesmo tempo o seu mundo. porque o ar tem um gosto diferente. porque as pressões atmosféricas que tendiam a comprimir seu corpo agora escolheram cantos diferentes para incomodar. porque você vê as mesmas pessoas, mas sem sair do lugar.

como se o mundo girasse e você perdesse a carona. ainda um extranho num mundo de hoje, quando sua cabeça ainda funciona ontem e seus sonhos são no futuro do pretérito.

mas você perde e ganha braços, lembra e prova lábios, senta e sente-se bem, esperando os panos levantarem, as luzes apagarem, e projetarem você numa tela, coadjuvante de seu próprio filme. provando a pipoca que engordura suas mãos de lembranças pegajosas e fétidas de mofo e naftalina. sugando dum canudo fino cada mágoa, cada abandono, cada frustração, diluídas em lágrimas carbonadas de um refrigerante. tendo que incômodo se acomodar e assistir na última fileira - talvez a única - o que fazem de você enquanto você perdeu o controle.

mas você divaga e vê que pode ser bom. que um sorriso largo pode aparecer em e para você. que uma palavra pode sair de um outro mundo e cruzar o seu caminho. que a paixão pode queimar-se toda e consumir sóis inteiros e depois deixar apenas cinzas onde deveriam ter músculos pulsantes a bombear o vermelho que enrubesce sua face num dia de frio.

faz frio, e é quente. e de nada adianta chorar.

segunda-feira, dezembro 08, 2003



novidade nos links ao lado

agora você pode conferir algumas fotos bizarras de coisas bizarras que fazem parte do meu mundo. meu caderno, com seus desenhos, rabiscos, referências radioheadeanas e originais da incrível e.l.p.b., e minha coleção primavera-verão - outono-inverno de camisas, com dizeres sábios e palavras de felicidade. tudo isso aqui.

um pequeno preview:



minhas camisas, com mensagens que falam de amor-próprio e amizade


essa foi a idéia original para os bonequinhos desse site, vale como referência histórica =)

quarta-feira, dezembro 03, 2003

naurÊa - circular cidade (ou estudando o plágio)

sai o primeiro disco da banda naurÊa, misturando forró, batucada, guitarras distorcidas e elementos de música eletrônica e pop num disco recheados de plágios bastante originais...

parecia um trabalho impossível para a naurÊa transpor todo o caos sonoro e energia que sempre demonstraram nos palcos para um formato mais "burocrático" e comportado de um álbum de estúdio, mas no disco de estréia da banda "circular cidade (ou estudando o plágio)" eles não só o fazem competentemente, como adicionam elementos à banda sem que isso descaracterize o estilo "esculhambado" da banda.

algumas coisas soam diferente, é lógico, como o andamento das músicas que ficaram levemente mais lentas, e o peso percursivo da banda, que já de antemão se espera que difilcimente seria captado com toda sua potência num estúdio. mas isso de longe afeta a sonoridade do disco, pois apesar de ser basicamente uma banda pra se experienciar ao vivo, o naurÊa supriu essas dificuldades do estúdio com a adição de elementos que por sua vez dificilmente seriam possíveis de reproduzir ao vivo na estrutura normal de um show do naurÊa.

são quinze músicas (e mais um segredinho ao final: a "música" rilísi, disponível apenas na primeiro demo da banda) que apreendem os melhores momentos do naurÊa, abrindo logo de cara com o crássico "bebo menino" (não, não é uma ode michaeljacksoneana) e segue o disco colocando um "hit" atrás do outro. as cotonetes não sentirão falta por exemplo de "r&b", "pra ingrês vê", "a peleja de lampião contra 007" e "d'o pop do forró" além do hino da naurÊa, bomfim, pra se emocionar e fazer roda com seus parentes em casa.

o disco conta ainda com participações especiais de artistas sergipanos reconhecidos como o percussionista pedrinho mendonça, o vocalista da maria escombona henrique telles, o guitarrista da snooze clínio jr., o rapper preto quente (ex- hot black), o showman-junkie edivan bilulu da falecida shovit e uma participação antológica "à la edson cordeiro" de amorosa castigando as cordas vocais (e os ouvidos e cristaleiras da casa). e mais um improvável arranjo de metais em arriba, que funcionou muito bem no disco, e uns loops e beats interessantes.

é forró pra todo mundo
é folguedo atemporal
é forró e um pouquinho de tudo
e daqui é universal


é forró pra todo mundo ver.
irônico?

a dita "ironia da vida" é uma ilusão falsamente criada por nós mesmos para dar um caráter mais especial a um fato simplesmente banal ou consequencial apenas para que esse fato (que, claro, se imbui de toda uma conotação e significação emocional bastante particular) torne-se mais especial do que já o é. afinal, quão mais especial as coisas podem ser quando são elas joguetes que a VIDA, essa entidade onipresente (menos entre os mortos) e suprema, faz contra a sua pequena e simples pessoa. um ar de importância.

porque contrariando o ó-tão-grande einstein, deus jogaria dados sim, e o que é pior, contra você. ou não contra, se você não é um ateu iradinho, mas digamos que a mão podre de deus te prejudica invariávelmente. porque a ironia da vida se volta pra você, e ela ri da sua cara enquanto você se estabaca no chão.

então acho que é isso. não é ironia. nada do que acontece é ironia. por mais tragicômico, ou apenas trágico. por pior e improvável. por mais bizarro que seja. não é ironia.

talvez as coisas tenham que ser assim, se você crê em destino.
ou as coisas ficaram sendo assim por uma simples causa primeva que se esconde atrás do tempo não-lembrado.

isso e tudo o que isso é. nada de especial, apenas o é.

mas não é ironia.

terça-feira, dezembro 02, 2003

às vezes rompe-se o invólucro que mantia a vida separada das coisas de morte.

porque as coisas de morte rondam tudo e permeia cada molécula suspensa no ar, cada faísca de coisa real, cada corda que tece as coisas como elas são. e as coisas de vida são presas dentro do que chamamos nós e eles. os outros são pacotes de vida ambulantes, espalhando essas coisas que fazem o ser algo mais arte, mais leve. mas há vida também são livres nas coisas de fora. em cada pedaço de coisa morta pipoca vida e folgueia suas labaredas em cada coisa que existe, a vida. porque a vida e a morte fazem o existir ser.

mas se elas estão aí, elas dançam separadas, mas são pares. pares que não se tocam, não se vêem (ou tentam não se ver), mas que ainda assim bailam juntos, sem sair do tom. sem pisar um no pé do outro. água e óleo num liquificador cósmico metafórico qualquer.separados pelo tênue momento em que um se aproxima do outro. separados pela tela que cobre as coisas de vida e pela pele que cobre as coisas de morte.

mas esse invólucro sagrado não é intransponível. nem indestrutível. e quando cinzas se espalham sobre as folhas ao invés do orvalho se nota que os mundos das coisas viventes se misturou com o seu antagônico. porque as vezes esse invólucro rompe-se em mil pedaços. deixando à mostra a tez da vida que se insinua nesse baile ao dedo frio e seco da morte, que toca áspero e fere a pele das coisas.

deve ser aí que reside o medo.

sábado, novembro 29, 2003

momento mulherzinha

mais uma vez cometo crimes ao numerário com compra compulsivas pero no mucho. pra quem já é familiar a esse blog ou a minha pessoa, mais uma vez compro cds sem ter a mínima idéia do que se trata.

mas dessa vez não foi um tiro tão no escuro assim. comprei o exciter do depeche mode e o brainwashed do george harrison. o primeiro já conhecia (e gostava) de um clipe, da primeira música "dream on". o segundo é do george harrison, e pô, o cara já foi bítou, não podia desgringolar de vez e fazer algo muito ruim...ah, esqueçam, tem o ringo.

o bom foi que isso custou a pequena bagatela de R$11,80 apenas. isso mesmo. R$5,90 cada cedê, no hiper g-barbosa (corram que tem o run devil run do paul também pelo mesmo preço e outras coisinhas legais) e o melhor de tudo: com dinheiro alheio! \o/

tá certo que eu vou devolver, mas considerem que uma promoçãozinha dessas não dá pra passar assim.

quinta-feira, novembro 27, 2003

o homem do início desse século acabou tornando-se escravo das máquinas que ele mesmo criou. mas ei! o einstein aqui nem precisou entender toda a trilogia matrix pra ver isso, nem precisou utilizar todo o potencial de seu neurocortéx circovoluncionado cheio de pregas, foi apenas a simples constatação de seus fatos diários do seu dia-a-dia.

mas o que eu estou colocando nessa minha balaiada teórica não é a dependência dos homens aos grandes meios de comunicação em massa, às redes invisíveis e internacionais de cartões de crédito, à dependência de fome das torradeiras computadorizadas que conseguem assar um pão de 1.500 maneiras possíveis e ainda imprimir um smiley na torrada. isso é vero pero no mucho. falo da dependência mais animal. da MINHA dependência mais banal, rasteira e boba. uma dependência à tecnologias renascentistas e autistas. falemos da minha necessidade de aparelhos na minha vida...

primeiramente houve o óculos. situação das mais patéticas: eu, homem criado no seio da mamãe, grande, forte e altivo, sendo um eterno dependente desses vidrinhos que tenho de sustentar na minha colossal napa narigal. inventado por algum vidraceiro míope numa antiguidade antiga qualquer, o que a tecnologia atual pode fazer para mim foi apenas diminuir em alguns kilogramas as portentosas lentes que tenho de levar na cara. mas que é algo primitivo, isso é. e ter de depender disso para minha vida é horrô. de ser um nada sem óculos. de não conseguir achar o próprio pênis sem a ajuda de lentes corretivas. nem de acertar o burado (da fechadura) sem essa ajuda especial.

mas agora dependo de outra grande invenção da história da humanidade. as muletas canadenses. incríveis. inventadas no final de um século já passado, ela diferencia-se das outras muletas pela falta do apoio subacal, que é substituído por alcochoadas "braçadeiras" de ferro. talvez isso se deva ao fato da marca cultural canadense de não usar desodorante e de ter as aquecilas sempre odorizadas devidamente, o que difilcultava o grip das muletas tradicionais, causando dezenas de milhares de quedas e até mortes....mas bem, o que importa é que dependo dessas duas varas de alumínio fodido para me locomover da cama-para-o-banheio-para-a-cozinha. o que não me emputece pouco, pois somado o peso do gesso, com a desegonçabilidade que me é característica à toda a física dinâmica que envolve o "muletar" (cunho hoje esse neologismo) para um lado e para o outro, isso acaba me causando mais transtornos do que parece. ridículo e patético depender disso.

mas é. e se não fosse já era.

encerro assim a incrível jornada da (minha) história humana de dependência de suas criações. no próximo capítulo: como o micro-ondas salvou a modernidade e possibilitou que uma revolução lentamente pipocasse (lindo esse trocadilho) e como o barbeador elétrico salvou da morte por hemorragia alguns milhares...

terça-feira, novembro 25, 2003

acabou.

depois de uma semana fora de casa, dormindo uma média de 2 horas por dia, chegando a trabalhar 21 horas seguidas, e sofrendo os maiores abusos mentais e físicos que um ser humano estudantil conseguiria suportar. foram diversas histórias, engraçadas e trágicas, que fizeram dessa semana uma semana inesquecível no bom e no mal sentido. nunca mais eu quero construir algo desse tamanho, não importa o tamanho da ajuda. mas mesmo assim vai ser muito difícil me acostumar com os corredores da didática 1 sem os bêbados, o lixo, os casais trepando, e os lençois e colchões espalhados com centenas de estudantes esparramados de ressaca. vai ser difícil me acostumar a dormir em cama (e por mais de 2 horas), a comer decentemente, a não trabalhar feito um condenado, a assistir televisão, ouvir música, saber das notícias do mundo, e sem ter uma menina convulsionando aqui, um estudante mineiro sumido e chapado em mangue seco acolá, uma gaúcha queimada de café andando por aí ou um beck de mais de 45 centímetros de comprimento sendo acendido as vistas grossas de pessoas abismadas... a normalidade sucks, e estamos de volta a ela.

sem contar que a graça toda que esse enep me trouxe só foi aparecer no final. quando as doses de álcool foram se tornando maiores e as horas de sono menores. quando os versos de "volta pra mim" do roupa nova fazem todo um novo sentido em que se misturam terror, susto e gargalhadas histéricas de um bando de bêbados insones. foi bom ter a vida sacudida por 1.200 estranhos entranhados na universidade que eu tinha me acostumado a não ver daquela forma.

ô se vai bater uma saudade disso tudo....

mas ano que vem tem mais (ou não?) no universo paralelo da UFS, a UFES. com personagens parecidos, histórias parecidas, cidades parecidas, e algumas faces conhecidas e queridas se sentindo em casa também.

antes eu me recusaria a proferir isso, mas esse foi sim um enep do cabrunco.

sexta-feira, novembro 14, 2003

XVIII ENEP


Bem queridos leitores, provavelmente estarei dando uma pausa aqui no blog por um tempo. Estarei ocupado com o evento acima, o 18o ENEP - Encontro Nacional de Estudantes de Psicologia, do qual faço parte da Comissão Organizadora, e que vai ser realizado na UFS - Universidade Federal de Sergipe. Vai ser uma semana de evento (do dia 17 ao 22) no qual terei que conviver numa atmosfera saudável que compreende libidinagem, afogadas em litros álcool, embalada por toneladas de cannabis sativa e, é claro, emoldurada na boa e velha política estudantil. Pelo menos estarei de fora dessa putaria, ralando pra que neguinho se acabe em sexo, drogas e forró pé-de-serra. Mas é tudo por uma boa causa.

Para quem mora nas imediações de Aracaju, vai estar acontecendo paralelamente ao ENEP um "festival" de música sergipana, como parte da programação cultural do evento. E é justamente aí que reside grande parte do meu trabalho. A quem interessar possa, a programação da semana:



Segunda-Feira (17/11): Show no mercado central (na Rua da Cultura) com Escamboada e Guerreiros Revolucionários. A partir das 20 horas.

UPDATE: Irão tocar agora, além de Escamboada, Joésia Ramos, UruBlues e outras atrações...

Terça-Feira (18/11): Show na UFS com Maria Scombona e Naurêa. A partir das 20 horas.

Quarta-Feira (19/11): Show na praça de eventos em São Cristóvão (a quarta cidade mais antiga do Brasil, hem?) com Bago de Jaca e a estréia de Dona Dores. A partir das 21 horas.

Quinta-Feira (20/11): Show na UFS e programação especial. Será o infame ENEP-GAY (christ, como eu odeio esse nome), uma festa à fantasia onde mulheres vão fantasiadas de personagens masculinas e homens de personalidades femininas. Pretexto pra putaria regado à muito rock'n'roll. Shows de Snooze, Please No! e Eloqüentes. A partir das 22 horas.

Sexta-Feira (21/11): Rave no mato. Em frente ao CACO, na UFS. Com o DJ Matanza Royale (SP) e um convidado especial (talvez o André "Urso" que andou dando umas discadas em Londres esse ano, ou o MOPA de Salvador). A partir das 22 horas.

Sábado (22/11): Despedida do ENEP na praia da Cinelândia. Luau-show (?!) com Reação, Seda de Pão e Zefinha Teta Cabeluda. A partir das 22 horas até a fumaça baixar...(SE baixar)

Bem, é tudo isso. Espero ver rostos conhecidos, ou então estarei em apuros. Me desejem sorte nessa empreitada absurda.

E não é que o logo combinou com meu blog? que mais chique, hein?

quarta-feira, novembro 12, 2003

capítulo 0

havia começado tudo errado depois daquela noite. porque as vezes os começos chegam mais traiçoeiros do que você já espera deles. porque os começos começam sem que você saiba. porque nunca que você saberia que um simples bom-dia pode começar algo diferente. como eu não sei agora.

e não existe a auto-comiseração nessas horas. não existe o "como é que você foi deixar que isso acontecesse?" nessas horas. é só você e aquele ponto gigante piscando assinalando o começo da espiral negativa. do príncipio de tudo o que não era antes. o começo de algo, algo errado.

porque ela era uma miragem. não podia ser verdade tanta coisa verdadeira num só espaço físico. num só comprimido corpo. dizem que deus é contido, que construiu tudo o que há em sete dias. oxalá se ele tivesse mais tempo, se ele criasse mais tempo! se deus fosse mesmo perfeito, ó que pecado, talvez seria ela sua obra mais querida. mais que o mundo com suas coisas viventes. mais que o universo com suas nebulosas ardentes. mais que a vida com suas sofreguidões pendentes. mais não era. porque as coisas tão belas assim carregam dentro de si a semente do terror. o terror de ter e de ser algo tão ameaçador às pessoas em seus desequilíbrios sentimentais, como eu, e de ser por si só, a arma que mata um, que degola outro, que tortura e que tange longe a calma de todos.

mas era ela ali. a dois metros dos meus olhos e dois mundos da minha alma. zombando do nosso lado da trincheira dos derrotados com sua presença áurea hostil. porque, porque, porque? se de lado a lado já haviam sido feitas as pazes de meu mundo inacabado com as coisas etéreas e distantes de meus sonhos, porque era a visão de pesadelo que vinha agora encorpada na mais bela e fulgurante aparição? invocando imagens e desejos em mim que antes eu despejava apenas nas lascivas e provocativas mulheres de revista e tv.

eram olhos cinzas e pernas alvas que roubaram meu fôlego. que abduziram minha atenção às coisas cotidianas, que eu fazia com maestria em meu canto perdido pelo tempo e pelas pessoas. era só pra ser uma cordialidade largada à toa, uma implicancia com a educação, uma formalidade burocrática e ordinária de um "bom dia", mas acabou que solavancou meu peito num queimar desgraçado de engrenagem velha renascendo, atravancou a fala e me impediu de corresponder à única resposta cabível no momento. meu "bom dia" nunca foi, mas meu dia acabou indo com ela, seguindo suas passadas leves, seu arrastar suave, seu planar macio, pelos caminhos que ela seguia...

e tropeçando em mim mesmo, segui o rastro de seu perfume seco e amadeirado por alguns minutos eternos. os cachos brilhando enquanto fluiam numa maré de sabores etéreos, espalhando faíscas e deixando o ar impregnado daquele tão evidente frescor e lividez. até que enfim alcancei-a e tomei seu braço em minha mão molhada e febril, a sua pele macia roçando entre meus dedos. a visão de seu rosto volta à minha retina, seus olhos cinzas surpresos, seus ombros hesitantes, os lábios esboçando qualquer sentimento incompreensível, eu ali. parado. suando como num delírio febril. as mãos enormes, sem ter onde pôr. o chão que olhava sem coragem, covardemente evitando os olhos cinzas, ela indaga sobre o porque e eu expiro sem o fôlego que a sua voz me rouba...

"bom dia", eu disse.


segunda-feira, novembro 10, 2003

capítulo 2

e em cima da cama estava ela. suas alvas espáduas cobertas apenas com o véu de inocência maculada que descia desde seus olhos cinza, um sorriso leve escapava sem querer dos lábios que ainda a pouco sonhava em ter nos meus.
e irradiava. o corpo num crepitar febril a emanar suas energias e seus cheiros, ainda envoltos numa sombra da puerilidade. a penugem bronze cobria da nuca aos braços num sedoso manto de arrepios, levemente eriçados pelo menor toque em seu pescoço, sensíveis aos chamados ansiosos de minhas mãos.

era a sexo que exalava, e era sexo que se inferia daquele contexto. mas as mesmas pernas firmes que abraçavam o meu corpo cada vez mais me sufocando eram as pernas que a arrastariam dali quando eu menos esperasse, eram as mesmas pernas que me afastavam de mim mesmo, eram o sagrado, o profano, o profundo. eram maculadas em cada veia púrpura que transparecia da pele a qual o Sol jamais havia lambido com suas labaredas de luz. porque nelas corriam o fogo que seu corpo frio esforçava-se a esconder, porque nelas corria o sangue que sua mudez tentava esconder, porque nelas havia vida que seus lábios falhavam em esconder.

e a nudez que figurou sonhos e incitou suores estava tão ali presente e era tão real que a resistência cedia antes de esboçar existir. afoguei-me em seus braços, em seus pêlos, em seus seios...e como um náufrago sem um destroço de esperança para me agarrar, me deixei levar em suas correntezas... na maré de suas delícias... no deleite de seus prazeres...

...mas em cada arfar escondia-se algo. porque os olhos cinza já não tinham o mesmo brilho opaco e vago, e dos cachos que se esparramavam sedosos sobre a cama já não se via o idílico sonho de perfeição. porque a boca que domei à própria língua escancarava-se em um contido silêncio. os lábios repuxados num sorriso sinistro de satisfação, a fazer pilhérias com minha sisudez. o ventre a queimar e a espalhar seu cheiro quente e viciante. as pernas que me sufocaram largadas sem energia. alvas. maculadas. impuras. porque em sonhos elas eram impossíveis e frias, distantes. suas pernas eram como deusas da minha mitologia própria, onde seu corpo era um olimpo imaculado e sagrado. nunca que se cruzariam em minhas costas. nunca que apertariam minhas costelas. nunca que seriam em minhas mãos devoradas.

era de culpa a lágrima que eu verti.

quarta-feira, novembro 05, 2003

A Terra é um planeta de forma esferóide, achatado nos pólos e levemente alargado no equador. A partir de cálculos feitos por geólogos e físicos, a terra tem aproximadamente um diâmetro de 12.700 Km e um volume de 1,08 bilhões de kilômetros cúbicos. A partir de um construto matemático baseado na lei gravitacional de Newton, os físicos podem inferir aproximadamente o peso do planeta por comparação de modelos de atração gravitacional. A partir desse método se imagina que o peso da Terra é um valor de aproximadamente 5,6 xextilhões de toneladas. Colocando isso em números:

56.000.000.000.000.000.000.000 de toneladas




Aí, né, eu estava tentando equilibrar tudo isso na minhas costas. 5,6 xextilhões de toneladas em cima dos meus ombros enquanto eu tentava ir vivendo minha vida. Mas quinta-feira 4 xextilhões serão depositados no passado. Estarei livre pelo menos da universidade, onde tudo veio se acumulando, piorando ainda mais o meu ano. Ainda falta muita coisa para meus ombros se verem livre de todo o peso, mas pelo menos vou estar bem mais leve essa semana. Bem, isso se eu conseguir passar em todas as matérias...

domingo, novembro 02, 2003

um dia perdido

deitado no colchão. sobre mágoas e lençóis encardidos de perdas.
um dia perdido no degelo de uma tarde que não passou pelos meus olhos. na manhã que poucas vezes vi tão cinza. na noite tão cheia de coisas que não gosto e coisas que não quero e coisas que não sinto. coisas, as coisas...

é difícil segurar a vontade, então deito. sobre minhas desilusões e fracassos. sobre o mesmo travesseiro remendado a lágrimas e apertos. mas é de verdade que me sinto. pelo menos isso, sinto de verdade.

mas divido alegrias, não tristezas. então em meu reduto sou nobre por não ferir esses princípios tão caros e tão fúteis e tão bobos. em minha reclusão solitária me mantenho fiel às convicções tão frouxas que carrego como uma cruz em minhas costas. e peço desculpas pela fraqueza que com uma força descomunal me enforca quase solícita, me fazendo desistir de encontrar algo pra passar a dor.

e deitado no colchão forrado em desespero, perco o dia como quem perde qualquer coisa perdível. perco a manhã em lampejos de uma luz que teima em queimar meus olhos. perco a tarde na escuridão do meu sono. perco a noite em frente aos meus próprios pesadelos.

porque é de perda que eu ganho os meus dias.

sexta-feira, outubro 31, 2003

Date: Wed, 29 Oct 2003 10:24:46 -0200
Subject: ola rapha
From: "dialeticosdomorro"
To: rapfloyd@yahoo.com


rap é atitude e ze povinho é ze povinho!!!
tamu cagando e andando pra opnião de vo6!!!!
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Dialéticos do Morro
Por Souza
http://www.dialeticosdomorro.hpg.com.br

Assinem nosso livro de visitas (Com Humildade)
http://www.dialeticosdomorro.hpg.com.br/ldv.htm

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Date: Fri, 31 Oct 2003 07:31:17 -0800 (PST)
From: "Raphael"
Subject: Re: ola rapha
To: "dialeticosdomorro"


Não entendi o conteúdo e o motivo da sua mensagem,
você poderia me explicar, por obséquio?

Em português, por favor.

Obrigado,

Raphael

- Qual é, segundo Virgínia Kastrup, Illya Prigogini e Sueli Rolnick, o projeto epistemológico da modernidade?

Muito obrigado, querido professor, por começar tão bem a minha prova. Três textos, de três autores fodas. Precisa mais?

Ah sim, precisa sim. Pois teve mais quatro desse naipe.

Epistemologia é uma pica no seu cu.

quarta-feira, outubro 29, 2003

um copo.uma xícara. água fervente. café solúvel em pó. açucar. um gosto amargo. forte.

tem um copo de café. um copo de café em minha boca. não é o copo, nem o café. mas o gosto de café em minha boca. forte. amargo. amargo. aquele gosto que fica do café quando você bebe. ou quando você não bebe. o gosto

o gosto impregna nas coisas. nos dedos. nos lábios. nas paredes. nas ruas. nos olhos. o gosto. o gosto amargo e forte de café. agora o gosto impregna meus olhos nos lábios. meus dedos seus dedos nos lábios. o gosto roubado de café em minha boca. tão suave. tão amargo. o gosto roubado do café em sua boca. em minha boca. em nossa boca.

não são lágrimas. é da névoa que flue lânguida liquefeita. são sal. pra adoçar o seu café.




a luz desperdiçada de manhã num copo de café





segunda-feira, outubro 27, 2003



pior do que quando sua esperança morre é quando sua esperança te mata. aos poucos, com requintes de crueldade. olhando no olho e rindo quando enfia a faca lentamente no seu peito. a esperança. a mesma que eu tenho e que me mantem vivo e blá, blá, blá.

e não, a culpa é MINHA, sim. toda minha e isso é foda. pau no cu da esperança.


foto tirada d'aqui.

quinta-feira, outubro 23, 2003

vai ser um post brega, tacanho, cliché e interno, mas é uma coisa muito importante pra mim porque aconteceu algo muito importante em minha vida. não é uma coisa boa, mas é uma mudança necessária. onde referências, realidades, atitudes, planos de vida e aspirações devem mudar. mas vou estar bem acompanhado, porque a parte de mim que tinha ido embora agora está comigo de novo por causa de uma coisinha esquecida minha, mas que hoje é o que segura a minha vida:

esperança


sim, eu tenho noção do quão brega essa minha quebra de texto foi, mas foi preciso porque essa palavra agora é que vai ater os pedaços da minha vida juntos. porque antes de sentar e sofrer eu preciso ter esperança, mas paciência também. e agora as coisas continuam. não como eram antes, mas continuam. porque lágrimas não fazem porra nenhuma, jejum não cria coragem e lamentação não constrói nada melhor. e eu tenho a minha melhor amiga, sempre.

terça-feira, outubro 21, 2003

Breve, num fotolog perto de você...



devido aos malditos 10 minutos máximos de upload/recall/edit do fotolog.net vai ter que ficar pra amanhã. é o máximo que posso fazer nas condições de saúde em que me encontro, volto a escrever aqui assim que puder. e viva o ctrl+c, ctrl+v!

Update:Visitem meu fotolog, seus putos!

domingo, outubro 19, 2003

i do like the drugs, and the drugs likes me.

não fumo maconha. nunca cheirei loló, ou uma carreirinha qualquer. nunca tomei um ácido, um ice, um speed ou ecstasy. não bebo horrores (regularmente) nem fico catando bosta pra fazer chá.
podem me chamar de careta, de limpo, do que for. mas pelo menos desses tipos de droga não sou viciado.

mas se tem uma droga que eu posso dizer que me toma de corpo é alma, essa droga se chama paracetamol, ou tylenol pros mais chegados. não é um vício químico, ou físico. mas emocional. eu sou emocionalmente dependente de tylenol.

não que eu tome todos os dias, ou tenha crises convulsívas se não for sanada minha vontade por um comprimido. mas não dá pra passar o dia sem o conforto de ter algumas dessas maravilhas brancas no armário, na mochila, na necessaire. quando falta tylenol em casa, mesmo não tendo uma dor de cabeça ou dor qualquer, já me dá uma agonia, a agonia de saber que se minha cabeça começar a doer a qualquer instante eu não poderei encontrar o alívio com tempo de ação de 30 minutos.

que se dane meu fígado, um tylenol pra dentro do estômago é o que há contra as agruras de um encéfalo latejante e das agonias do corpo alquebrado da febre ou da dengue. me acompanhando nos meus momentos mais angustiantes, sejam nas gripes, nas rinites, na dengue e outras doenças que já me assolaram. sou feliz por ter você, meu melhor amigo químico.

agora que tou de mal com o ácido acetil salisílico (a vulgar aspirina ou aas), o tylenol foi o único componente industrializado de posologia fracionada que sobrou ao meu lado, para o alívio temporário de dores leves e moderadas associadas a gripes e resfriados comuns, dor de cabeça, dor de dente, dor nas costas, dores leves associadas a artrites, cólicas menstruais e para a redução da febre.

se você também é um dependente emocional do parecetamol, seja do tylenol da janssen-cilag, ou do genérico qualquer, vamos nos dar as mãos e em agradecimento ergue-las ao céu pela existência desse maravilhoso analgésico e antitérmico.

\o/

sexta-feira, outubro 17, 2003

é quando você tá doente que a solidão mais te afeta. os olhos ardendo, querendo ter alguém querido em suas retinas. a cabeça pulsando, cansada de toda a sorte de coisas que te passam quando o quarto é escuro e frio. o corpo febril que tanto deseja dissipar sua quentura com o calor de outro corpo. a face maior do que a cabeça comporta, despejando humores e excreções e convertendo a dor em um olhar lúgubre, inchado e fora de foco.

o pretexto perfeito porém de esquecer que se é vivo e morgar numa cama por todo o dia. de esquecer da aula de psicopatologia geral I a professora cuspindo a baba branca na ponta do lábio pendurada vai cair doenças e sintomas de cabeças desreguladas. mas eu tenho a cabeça desregulada e ela dói e ela está febril agora.

é quando você está doente que a solidão mais te afeta. se numa hora dessas nenhuma química vem até você com copinho e carinho na cabeça enquanto você se engasga. nenhum algodão molhadinho nos olhos. nenhum cafuné. o corpo expulsando seus líquidos violentamente, expurgando a doença em ares quentes que emanam de uma garganta afetada e dolorida.

- vai se foder, sua bicha. é só uma gripe!

quinta-feira, outubro 16, 2003

Resuminho básico dos últimos dias:

-deciminho lugar no torneio de Magic. dancei bonito.

-quadros novos e inéditos do Renoir, R$80,00. do Picasso, R$100,00.

-pregador no ônibus, tirano os home e as mulé dos pobrema ca paravra de Deu

segunda-feira, outubro 13, 2003

auto-análise bloguísta #127

é difícil manter uma certa consistência nesse blog da maneira que eu quero. se pudesse, teríamos aqui um post diário. mas nem minha capacidade de construção nem sua resistências testicular são capazes de imaginar isso agora. e eu ainda cismo de colocar esses post gigantes e mal feitos, falando sobre assuntos que apenas interessam a duas pessoas (geralmente eu e mais outra) e que vão do nada a lugar nenhum e nem servem um lanchezinho no caminho.

entretanto, eu comecei coisas nos últimos posts que eu penso terem sido relevantes para mim pelo menos, seja publicando as pequenas e absurdas historietas escritas durante as enfadonhas aulas de psicologia, seja falando minhas opiniões sobre música para sanar minha frustração em não ser um badalado jornalista musical, ou seja ainda apenas melhorando o meu blog (ou piorando para alguns) com mais links interessantes e mudancinhas no template.

o fotolog não me rouba tempo algum, afinal é o maior embuste da história. porque não tenho máquina fotográfica e as vezes (muitas aliás) apenas procuro uma foto aleatóriamente apenas para aproveitar o limite de uma foto por dia. é, desmistifiquei o flog.

o que realmente me atrapalha é esse momento especial em minha vida. formou-se uma casca em minha volta que lentifica minha volição (lindo isso não? psicopatologia rules!), e meu pensamento parece precisar de um pouco de óleo. quase nada de bom ou ao menos aproveitável sai de dentro da minha cabeça sem um esforço inumano. seria tempo de parar com o blog (coisa que já fiz, e um bocado) mas prefiro continuar. reciclando textos antigos (como o texto não lido por ninguem sobre a cegueira) ou apenas criando assunto falando sobre alguma coisa irrelevante.

e salve o draft! que ferramenta ótima. pelo menos quando eu travo na frente do blogger agora tenho a possibilidade de deixar as idéias aqui fermentando e ver o que sai mais tarde. um dia eu uso isso a meu favor.

é isso. mais um post inútil.

domingo, outubro 12, 2003

Edith Piaf, de tragédia e ilusão...



A parisiense filha de um princípio de século belicoso e destruído conquistou o mundo do alto de uma voz que a elevava à estatura que não tinha.

Nascida em 19 de Dezembro de 1915, filha de dois artistas circenses, Edith Giovanna Gassion fazia sua estréia no mundo debaixo de uma lamparina à gás, numa rua fria e desolada da noite em Paris. Sua história convidaria à olhares descrentes e certamente figuraria nas grandes obras de ficção se não fosse verdade.

O pai, Louis, era acrobata e serviu na primeira guerra mundial. A mãe, Anetta, uma cantora que por anos teve de se sustentar cantando em cafes e halls pela cidade, logo a abandonou aos cuidados da avó alcóolista. Louis, ao voltar da guerra, encontra a pequena Edith muito doente e maltratada nas mãos da mãe de Anetta e a leva para morar com sua avó paterna, Albeit, uma cozinheira de um bordel na Normandia. Adotada pelas putas e pelos cafetões, a mascote Edith criou-se num ambiente boêmio e desestruturado, no pior lugar em que uma criança poderia estar.





Aos seis anos, mudou-se com o pai para um hotel perto de onde nascia. Era sua primeira volta triunfal à belle Paris. Trabalhando nas ruas com seu pai, cantando e entretendo as multidões desenganadas e desesperançadas numa cidade cujo brilho era opaco frente toda a destruição da guerra, Edith passou anos na pobreza e no sofrimento. Até que alçou seu primeiro vôo solo.

As ruas de Paris foram seus primeiros palcos, atraindo seus primeiros espectadores, Edith cresceu seu nome quando postava sua voz melancólica e áspera. A lenda nascia do ambiente degradante que desde cedo Edith frequentara. Putas, cafetões, gangsters, era neles que ela encontrava um "abrigo" para todo o sofrimento que ela encerrava em seu pequeno corpo frágil. Depois das perseguições moralistas, de séries de derrotas e vitórias, Edith foi construindo sua carreira baseada nas belas canções que compunha - e que refletiam a vida triste e a pobreza em que viveu - e chegou a se tornar a estrela mais bem paga do mundo, vendendo milhões de discos numa época em que isso era um luxo para poucos.



Apesar da fama, seu coração sempre esteve ligado àquele ambiente degradante da suburbana Paris, dos bordéis e cafes, e foram vários os homens em sua vida, como foram várias as decepções e derrotas com a vida que desde cedo pregava suas peças nela. Morreu pobre, vítima de sua vida. Mas deixou canções eternizadas, fotografias sonoras de uma gama de sentimentos que nos tempos modernos não se encontra parâmetros.

E para quem também ainda se emociona com ela, um documentário muito bonito, recheado com imagens da cantora em vida e da Paris da época está passando essa semana no GNT.



Documentário que mostra a vida da cantora pela perspectiva de seus numerosos relacionamentos amorosos. De Paul Meurisse a Charles Dumont, passando por Yves Montand e Marcel Cerdan, seu leque de affairs é substancial. E as canções de sua vida sempre estiveram ligadas a seus amores.
domingo - 12h30
terça - 20h00
quarta - 02h00
sábado - 12h30


Edith Piaf faleceu em 63, deixando um legado eterno.

conheça mais sobre ela aqui

sábado, outubro 11, 2003

recebi hoje um email do irmão do ex-ditador da Libéria, Charles Taylor



Charles Taylor, ex-ditador liberiano.


me oferecendo uma módica quantia para que o recebesse aqui em casa e o ajudasse pra mode dele negociar.

- Como assim módica?

20% de algo em torno de US$28 Mi...

- US$ 28.000.000,00 ?!?

segue-se abaixo o email, caso vocês duvidem.

From: "FROM PRINCE WILLIAMS TAYLOR." [princewillams771@z6.com]
Date: Sat, 11 Oct 2003 04:35:44 +0500
Subject: TREAT URGENT PLEASE.
ATTN:C.E.O/PRESIDENT. I know this message is going to surprise you,
considering that I am unknown to you, but I want you to know that this
email is sent with all good intentions in mind. My name is Princewilliams
Taylor, a Liberian and a younger brother to the incumbent president of
Liberia, Charles Taylor, who is about to be exiled from the country. I
have been delegated by Charles to leave Liberia for Dubai united arab
emirates with the sum of (US$28.M) Twenty-eight million United States
dollars, and from Dubai united arab emirates look for a trustworthy
person who will assist me with the transfer of the fund out of Dubai united
arab emirates to a country where we can invest, and resettle in. Now,
if you decide to assist me, first I will demand absolute confidentiality
for my brother?s sake and I want you to know that for your assistance
you will be compensated with 20% of the Total sum. 10% for expenses and
the remaining 70% you will help me for investments in your country
Please, you can reach me through the following phone numbers listed below.
And it is also important you give me your confidential phone and fax
numbers on indication of your interest in the transaction. so you can
reach me through my private telephone which is +971.50422.5106 or e-
mail-princewillams77@z6.com Best regards, PRINCEWILLIAMS TAYLOR.



Esse é o bróder do Charles, o Williams. Gente boa...


então, minha casa tá uma baguuuunça...aceito ou não?

quarta-feira, outubro 08, 2003

mudanças no template do blog:
adicionei links para os sites das minhas bandas e artistas favoritos. vejam como eu mando bem.

UPDATE:Template dos Comments modificado + links corrigidos

Devo não pago, nego enquanto puder...

depois de 6 meses de inatividade bancária, eles me intimaram a comparecer ao banco, "preocupados" com minha situação financeira e, é claro, com os R$ 18,90 que eu devia pra eles. primeiros tensos momentos de experiência com a realidade do mundo moderno (e do adulto). mas agora pelo menos sou um cidadão limpo, honesto, com R$ 5,10 na conta e livre da preocupação com o SPC e congêneres. off the black list.

don't cry for me argentina...

terça-feira, outubro 07, 2003

banho. [Do gr. balneîon, pelo lat. balneu e pelo lat. Vulg. baneu.] S.m. 1. Imersão total ou parcial do corpo em líquido, especialmente água, para fins higiênicos, terapêuticos ou lúdicos.

o banho. um ritual comum a todas as sociedades (umas mais devotas e outras nem tanto). o ato de limpar o corpo, geralmente com água (ou leite, vide Xuxa) e sabão (ou sabonete, se preferir).

o banho no final de minhas terças-feiras é um evento sublime da minha experiência. Um ritual sagrado e meticuloso. Um fenômeno orgasmático e demorado. Porque é quase divina a sensação de extirpar todo o peso e o sebo do dia de minha pele. Extirpar aquela sensação quase gordurosa e sulfurosa que chega a imprimir na alma uma cobertura visguenta de inquietação e desprazer. O gosto ácido e azedo que impregna a boca do ar carregado de fuligem e desagravo, do mormaço que sobe do chão sujo e desgastado pelas chinelas que se arrastam no vai-e-vem ocupado do dia inteiro.

Um banho depois de tanto tédio e tanta raiva, depois de tanta terra e tanta fumaça, de tanto andar e desandar. Um banho para arrancar a tarde como se arrancasse uma segunda pele de mim. Um banho pra esquecer, e deixar fluir pelo ralo o que me destrói um pouco a cada dia. Um banho para afogar em água quente o fantasma da terça-feira finda, e ver na espuma que escorre lentamente um pouco do eu que sobrou.

finda essa terça cinza...

segunda-feira, outubro 06, 2003


e o show da Maria Rita Mariano, você viu?

pois é, passou tarde. mas passou.



contrariando as primeiras impressões que tive da Maria Rita, devo dizer agora que das "novas promessas da música brasileira" ela é sim uma grande e promissora intérprete. talentosa, magnética e - porque não? - bela e intensa.
talvez o hype em torno dela acabe por desvalorizar ou saturar a sua imagem, mas hype por hype, esse é o melhor que já houve nos últimos anos da mpb. os tribalistas não valem um peido em si bemol da moça.


Maria Rita, em si bemol


a tríade baixo + piano + bateria são mais do que suficiente para servir de fundo para a voz pungente da cantora, e qualquer outra intervenção, seja percussionista ou violonista, talvez se passe por supérflua (e até desnecessária) mas emolduram com fineza as nuances e sutilezas do estilo de cantar de Maria Rita, suave mas com uma firmeza difícil de se encontrar nas estridências comuns às cantoras populares brasileiras.


seu primeiro álbum


seja interpretando emocionantemente canções de Milton Nascimento ou Marcelo Camelo, ou subvertendo em uma versão bossa-nova de Veja Bem, Meu Bem, dos Los Hermanos, Maria Rita imprime personalidade às músicas. mas batendo na mesma tecla de toda a crítica (e ruindo de vez com qualquer criatividade que esse texto possa ter possuído), é impossível não sentir a presença de Elis Regina ao ouvir Maria Rita Mariano. Filha da cantora com o pianista e arranjador modernóide César Camargo Mariano, Maria Rita é sem dúvida uma artista de talento (ao contrário do outro filho, ugh) mas é inegável que seu estilo é bastante parecido, sua voz, seu rosto, seu jeito de cantar... mas ainda assim, é um jeito próprio. como só os filhos tem o seu jeito de emular os pais sem serem canalhas. e sendo Elis Regina uma das cantoras mais emuladas da música brasileira, Maria Rita tem o trunfo de não ser ela uma mera cópia, um "filho de peixe" apenas, mas sim uma cantora muito boa e singular no seu jeito. pontos pra ela.


sofisticada e chique, reparem o óculos


mas e você viu que mais do que chique o óculos roxo da menina combinando com sua camisa roxa?

pois é, tava lá também.

domingo, outubro 05, 2003

esse é mais um texto da série "textos que escrevo quando não presto atenção à aula". são pequenas coisas que escrevo em meu caderno quando o tédio inquietante das aulas me leva a um lampejo criativo qualquer. bom ou ruim. às vezes são influenciados por uma palavra qualquer que o professor profere e me leva a um estalo, ou apenas são coisas pelas quais passo no momento. o texto a seguir se deve a um momente desse ano em que minha vista andava meio nublada (mais que o normal) e eu, na minha paranóia infantil e idiotica, achava que era alguma doença incurável e que por fim me levaria a cegueira. era apenas a necessidade de óculos novos. segue o texto:


Sobre a cegueira


Recentemente adquiri mais um novo medo a minha já extensa coleção de medos e inseguranças cotidianas: o meu maior medo hoje é de ficar cego. Tá isso é um medo comum a todos com olhos, mas fora os já doentes e aqueles que não olham pra onde enxergam todos apenas nutrem esse medo como todos os outros medos que jazem tranqüilos (mas imprevisíveis) nos recônditos mais escondidinhos lá no fundo da alma, é tal qual o medo de animais selvagens e peçonhentos, de cavernas de ares venenosos, e de astros conspirando contra seus pequenos admiradores.

Meu medo de ficar cego é tão medo quanto o medo qualquer de qualquer um. Mas ainda assim é mais medo que o dos outros porque é meu e eu tenho os meus motivos meus e só meus que me fazem crer que eu realmente possa ficar cego. Nada ainda quantificado, diagnosticado e banalizado por um profissional respeitado e competente provido de lentes e mais lentes e de gotas e mais gotas (gotas essas que só da parca memória já me causam mais agonias da pura possibilidade do ato de “quase” ficar cego, ou do processo da cegueira em si).

Meu medo de ficar cego é tão forte e tão arraigado que até cercado de animais selvagens e peçonhentos, encurralado contra cavernas venenosas e com o céu a pipocar e a rasgar-se em cores e formas, eu tenho mais medo ainda de nessa exata hora que as metafísicas conspiram contra um pequeno e assustado eu, eu fique cego e mais perdido que o mais desafortunado dos náufragos.

E talvez esse meu medo da cegueira seja apenas um reflexo meio sujo, meio triste, meio exagerado de minha simples fraqueza. Pelo menos de uma delas. Acho que divido essa fraqueza com os milhares como eu, os que usam óculos. Como se usar óculos (por uma necessidade infeliz da natureza) nos sindicalizassem todos e nos tornasse uma grande e infeliz família de quatro-olhos, padronizados e com características em como. Uma subespécie humana.

A fraqueza de usar óculos já aumenta meu medo na mais flagrante característica nossa: já somos, per se, quase cegos. Ou pelo menos com menos visão do que belos e felizes não usuários de óculos. Prefiro não entender os distúrbios de visão como “apenas uma distorção da visão comum” mas prefiro ainda classificar-nos como cegos privilegiados, que apenas vislumbram o mundo das luzes através dos borrões e manchas móveis, disformes e não nítidas. O meu copo está meio vazio.

Por já ser um cego privilegiado, mas ainda assim um cego em potencial, eu fujo da cegueira como se nem mais respirar importasse, como um rico que foge da pobreza, um upstart deficiente físico que pesadela em se tornar um mendigo aleijado. Mas mesmo assim, como um Fausto desgraçado por deus (e não pelo tinhoso) eu sinto que o derradeiro momento como o melhor dos cegos há de chegar. Tão retumbante como a queda de Roma (que de tão devagar, antes de se notar já tinha caído).

Porque se os olhos são o espelho da alma, eu que já nem tenho uma própria ainda corro o risco de perder a capacidade de refletir a dos que macaqueio a meu modo. E meu olhar vago para o infinito se voltará agora para o nada. E as formas que aparecem no fundo das minhas retinas fugirão como os ciscos que saem pelo canto dos meus olhos. E um olhar profundo qualquer não desvendará nada alem do que a inatividade do fundo do meu globo ocular.

Não que os cegos são os mais desgraçados dos seres que jamais pisaram nessa terra. A felicidade deles independe de cada palavra antes dita por mim. E eles transitam livremente pelo mundo das minhas coisas vistas (ou quase vistas) com dificuldade, mas cheios de uma coragem sem igual. Uma coragem que eu não tenho. A coragem que eu não tenho de confiar nos meus próprios passos num escuro eterno; a coragem que eu não tenho de confiar nas pessoas apenas por suas vozes; a coragem que não tenho de sorrir sem se importar com quão idiota sua cara fique ao sorrir. Não também que ser cego é bom, apenas não tenho coragem suficiente para ser cego. Coragem de visitar o mundo deles tão tranqüilamente como eles transitam pelo meu mundo. Mas eu não sou cego, eu não sei realmente.

O que sei é que sou um fraco vivente que quase vê. Um fraco e ridículo quase homem que se importa se sua roupa combina. Que se importa se seus quilos a mais incomodam os que o vêem. Que se importa em sorrir com um pedaço de alface preso nos dentes. Que se importa com seu sorriso idiota e besta, e prefere não sorrir as vezes. Não ser cego não é para fracos que se importam. Ou talvez seja, como um castigo cruel e sádico do vosso bondoso deus.

Mas se meu fim é ser cego, de que adianta tantas letras e linhas se no fim, serei cego? Talvez porque no fim, antes do último fiapo de luz riscar minhas opacas pupilas já tenha pensando tanto na cegueira que ser cego já será uma parte de mim. E serei cego então.


19/05/2003 – 17:41 h
à luz de lâmpadas amarelas.

sábado, outubro 04, 2003

1+1=5


foi então que eu descobri que eu tinha duas almas...

mas isso era óbvio, afinal explica muito bem todas essas dúvidas que eu tenho. eu sei disso porque eu mesmo não gosto daquele pijama azul, mas às vezes o eu-que-não-sou-o-eu-agora me engana ao se enganar sobre o pijama. Ahm como eu odeio aquele pijama azul!

é ainda pior quando é dia de chuva. eu mesmo quero ficar em casa, mas saio porque comprei um guarda-chuva. afinal ele também precisa de algo para ser o que é. não como eu que quase não sou.

e é quase mais difícil ter duas almas quanto...falar é difícil também, não porque catar as palavras do vazio seja difícil, mas mais ainda é quebrar a barreira e lançar a palavra para o não sei. ainda mais quando o outro-eu erra quando eu estou certo, ele mente quando eu falo a verdade, ele é torto mas eu estou ele. e nele está em mim.

e quando ele veste o pijama azul olha lá! eu andando pra frente! falando e gesticulando e tropeçando em mim...

eu sei desde a escola que dois corpos não podem ocupar o mesmo lugar no espaço. mas e porque dois lugares podem ocupar o mesmo corpo? porque eu sou brasil e ele é ceilão, eu fico e ele vai, eu aquio e ele láreia.

mas se na dúvida ele surge, na certeza eu que sumo! entào é que eu duvido quem sou ele e quem é eu. vou dormir em meu pijama azul hoje...

terça-feira, setembro 30, 2003

Olhem para mim eu ali sentado. Na extrema falta de urgência preguiçosa e lenta. Mascando os próprios dentes, roendo a própria boca. Tossindo ou bocejando. Ou olhem para mim ali andando. Levando as pernas na barriga, arrastando os passos para onde o nariz aponta. As mãos procurando algo inexistente nos bolsos, os olhos apenas alertas para obstáculos no caminho. Os olhos apenas abertos.

Eu fico reparando em mim mesmo quando eu passo ali na frente. Ou quando eu senti ali ao lado. Ou no vai-e-vem na minha frente, sem rumo. Eu indo lá longe de mim.

É engraçado eu andando distraído, remoendo todo o dia largado nas costas, gritando com os braços e pernas e calado com os olhos e a boca. Eu às vezes observo essa cena, me posiciono no caminho e estiro minha perna hostil numa rasteira danada! Que tropeço! Vivas e palmas para a queda desse império!

Eu caio, rompo o rosto sisudo e vago com aquele riso envergonhado e tímido, ergo todo o império das poerias das vidas terrestres, limpo o corpo do pó e sujo a alma com a queda. E então vou embora correndo!

É engraçado...

30/09/2003

hoje a aula pelo menos foi produtiva

domingo, setembro 28, 2003

international nerd-pride day

primeira coisa ao acordar foi isso, depois de almocinho e banho tomado foi a vez d'isso e depois um bocadão d'isso. Se já não bastasse, mais um pouquinho de idling aqui e pra finalizar com chave de ouro, uma passadinha rápida por aqui.

E olha que só não rolou mais nada porque isso não tá funcionando...

quinta-feira, setembro 25, 2003

ontem gastei boa parte das minhas horas de sono necessárias no show do Flávio Venturini. não que o show seja uma bomba, mas o cansaço que essa universidade me causa é demais para mim. tá certo que a primeira metade do show (umas duas vezes mais comprida do que a segunda metade) não foi lá essas coisas, mas se não fosse a cadeira inapropriada para o meu diametro nadegal e o chiclete que pousou grudento em minha calça (vindo de onde não sei) até que não teria sido de todo perdido.

enquanto assistia o show, eu divaguei (tá bom, eu meio que viajei de sono mesmo) sobre os cantores-tecladistas brasileiros. eu sei que não é coisa de exclusividade brasileira, mas é um fenômeno interessante. temos grandes clássicos da churrascaria de outrora figurando entre os bam bam bans da grande música brasileira, só pra citar os mais famosos: Ivan Lins, o proprio Flávio, e o grandioso Guilherme Arantes.

e bem, tenho uma confissão a fazer...apesar de todo o potencial brega que tem um cantor resvalando no falsete enquanto bate imperdoavelmente as teclas de um kurtzweil, eu gosto de algumas canções deles. No show do Flávio Venturini,houve momentos de coros e palminhas que participei ativamente. Ah, e quem nunca cantou "te amo espanhola"?

Ivan Lins também tem seus clássicos, mas me traumatizei por ter sido chamado de sósia de Ivan Lins quando pequeno, por favor, não quero falar nisso.

E Guilherme Arantes! Meu favorito! Eu seu que meus amigos indies vão me repudiar e nunca mais me chamar pra uma audição de Zaireeka, mas EU GOSTO DE GUILHERME ARANTES. Pronto. Falei.

São poucas músicas, é verdade, mas ainda assim gosto dele. "Amanhã", "A Neblina e a Cidade", "Sorocabana", "Meu Mundo e Nada Mais" e "Lindo Balão Azul" são músicas belíssimas, seus putos!

e pra quem já teve um tecladinho casio-tone quando pequeno, sabe o que é ver esses cantores fazendo um show só com um teclado e um bocado de beats tacanhos e oitentões e vibrar com a possibilidade de você dominar o mundo apenas com um moog nas mãos.

segunda-feira, setembro 22, 2003

O caso mais falado de ultimamente, da falcatrua no programa do Gugu, é mais uma vez um dado que vem somar à uma preocupação com a mídia em geral.

pra quem acabou de sair de debaixo da pedra farei um sumário dos fatos: programa do Gugu, "integrantes" do PCC são intrevistados e espalham ameaças de morte a pessoas famosas, entre outras coisas. ficou um ar meio de "ahn? sério?" no ar e depois de investigação mais profunda (com direito a intervenção da própria advocacia do PCC) foi descoberta a fraude do programa. alfa e beta, os dois entrevistados, são apenas atorezinhos contratadas para se passar por bandidões. e Gugu, com sua típica cara de bunda melada, chora no programa da Hebe e pede desculpas (mesmo dizendo que a culpa não era dele). não satisfeita, a tia justiça suspende o programa do platinado mentiroso. e hoje eu nem sei o que foi que passou no lugar (ponto pro gordão? dizem as más linguas que nem assim Faustão consegue embicar aquele programa ruim).

apesar de ser um programa sem qualidade e credibilidade alguma (lembrar do caso em que as "pegadinhas" pegavam o telespectador abobalhado, e não os atores contratados) é um dos programas mais assistidos da televisão brasileira e nessa guerra pelo Ibope não se envorgonhou nem de apelar para a mentira (já que mulher pelada na banheira, a essa hora, não pode mais). para onde vai a televisão brasileira?

ele me fez pensar numa coisa que eu nem tinha parado para pensar: se essa moda pega, em quem a gente vai confiar? se nem os grandes meios (que pelo menos deveriam ter a decência - e o controle do Estado - de não fazer uma coisas dessas) conseguem transmitir essa confiança necessária para um meio de comunicação, nossa disconfiança se generalizará e de qual é a fonte que a gente vai conseguir tirar alguma notícia sem pensar "ahn? sério?". é claro que existem meios de comunicação sérios e respeitados e minha visão é a menos embasada possível, não vem de nenhum estudante de jornalismo, mas de um mero espectador casual de televisão.

e não por que o Gugu mentiu em seu programa que a partir de agora eu não vou confiar em mais nada que passa na televisão. afinal, quem me conhece sabe que em um mês eu talvez nem lembre mais do assunto. mas esse problema é um indicativo preocupante do nível que anda chegando a televisão. se comer peixe cru ao molho de pentelhos não era o fundo do poço, onde porra é que a gente ainda pode chegar?

e eu pondo toda minha mente conspiratória pra funcionar até que posso elaborar um plano malígno onde o Padre Marcelo Rossi seria até o mandante, tentando fazer com que mais fã$ preocupado$ com a $aúde e a vida dele comprassem o novo disco/dvd/batina de malhação consagrada dele. ou então que isso tudo foi uma pegadinha do Jõao Kléber com o Gugu.

seja lá o que for, o otário ainda é quem assiste essas porcarias.

domingo, setembro 21, 2003

Até que enfim provei o tal sanduiche da Nova Sorriso. E sobrevivi.
Realmente a carne possui uma cor peculiar e um gosto um tanto diferente.
Mas é o único sanduíche que já me causou preocupações existenciais.

Nova Sorriso: Experimenta!

sexta-feira, setembro 19, 2003

Li isso e me lembrei dele.

Para Gabrig:

"Empunhando a faca-estrela de minha avó, eu imprimia pequenos cortes superficiais no caule do pinhão-roxo mais entroncado que logo pegava a chorar as lágrimas leitosas que eu aparava pacientemente, os pinguinhos e os pingões, na minha coité castanha. Nesse líquido embaciado, embebia uma das pontas do longo e verde canudo de mamoeiro, embicava-o bem para cima e soprava da outra extremidade. Ai então, sob o fundo das nuvens que viajavam risonhas, deflagrava-se o milagre! Da pequena gota turbada, hesitante, se balançando meio desequilibrada no oco do tubo vegetal, despencava-se a prodigiosa aparição: uma copiosa revoada de esferas de muitas cores misturadas de todos os tamanhos, bolinhas e bolonas, lépidas e viageiras, translúcidas e camaleônicas, a brincarem muito luminosas em cangapés de adeuses. Ah! Quem me dera agora mesmo me desatar da frágil condição de vivente para me desdobrar descarregado das amarguras e sem deixar rastros como elas...nascer repentinamente de um reles assopro na beirada de um canudo qualquer, também como elas, para vagar nestes ares vazios à mercê da mais imprevisível pancada de vento, lesando lá por cima como quem já não regula, à toa...à toa... e depois de assim exaurir ao léu todas as energias, não importa até onde nem quando, enfim implodir silenciosamente sem ser notado, ainda uma vez como elas...sem gritos de angústia nem gestos dramáticos, sem derramar sangue nem fezes ? e sobretudo, isso sim! ? sem padecer do ridículo no meio dos favores prestados a contragosto e dos cuidadinhos alheios que sabem a caridade. Quem me dera me despojar desta condição de vivente sem nenhum alarde, assim como um estranho ente que de súbito, governado por artes e magias, se desencanta do modo mais silente, mesmo sem o sofrimento refreado e invisível que acabou com minha avó. Simplesmente desmanchar-me na inaparência dos redondos volumezinhos furta-cores que me encadeavam num arco-íris de luzes e desapareciam borboleteando na mais cristalina leveza, na mais transparente candura, no mais sigiloso anonimato, sovertidos num bosquejo de dulcíssimo frêmito insofrido."

De Francisco J. C. Dantas, em Coivara da Memória, página 33.

Um dia eu ainda aprendo a fazer metáforas e textos poéticos como ele.

domingo, setembro 14, 2003

o homem talvez não fosse homem se não fosse a sua capacidade de transponer e construir elaboradíssimas barreiras. vejam a grande muralha da china, por exemplo. até então a maior construção humana que pode até ser vista do espaço (tá, não pode. mas deixa o clichê por hoje). uma barreira gigantesca que impediu, ou melhor, atrapalhou os mongóis de botarem para chegar lá para as bandas dos amarelinhos por um bom tempo.

as barreiras e os homens são imanentes e inerentes um ao outro (que bonito!). e não falo só das barreiras físicas, mas as morais, sociais, imaginárias, físicas, químicas, biológicas e - porque não? - psicológicas.

o homem cria barreiras para os outros ao mesmo tempo que tenta atravessar as barreiras que os outros constroem. veja no exemplo anterior que os chineses fizeram uma monumental obra de engenharia que foi monumentalmente falha contra o pequeno Khan. e podemos ir mais além e encontrar outros exemplos, como as mebranas celulares, as barreiras de mielina, os esfincters e o hímen e mudando de plano, os traumas e todas as norminhas sociais para um convívio correto e civilizado.

e toda essa introdução estapafúrdia e desnecessária foi apenas para chegar de maneira quase inteligente ao assunto do post: a barreira dos vinte anos.

o que é a barreira dos vinte anos? bem, se você possui menos de vinte anos, me desculpem, mas talvez nunca vocês entendam. pros velhinhos que freqüentam esse blog esse assunto não só é senso comum, como é também um tópico delicado.

a barreira dos vinte anos não é uma das barreiras rompíveis do ser humano, mas é uma das construídas involuntariamente e instransponível dentro da moralidade vigente. mas porque isso? ao término do décimo nono ano de vida, as pessoas misticamente digivolvem para um novo ser. você já acorda no próximo dia cansado, com rugas e rusgas com a vida. é uma passagem inescapável, que você tem que cruzar natoralmente e sem vaselina. você, depois desse hoje é velho. sim, velho. caquético. decadente. esclerosado. um velho.

esqueça suas atividade de adolescente e sua diversãozinha inocente. suas preocupações agora vão mais além do que queimar neurônios com o apelido que vão te botar depois que viram que você usa cuecas velhas. você não é mais adolescente. velho, lembre-se disso. e se você pensa que ainda é, pior ainda. é um velho babaca. você está muito mais perto dos quarenta do que dos dez anos. segunda dezena passada, já era.

e disso resulta algumas conseqüências. relacionamentos com pessoas do outro lado? nem pensar. pedofilia é crime e dá cadeia. e é inaceitável tanto moralmente como...uhm...bem, é inaceitável relacionamentos amorosos com pessoas de menos de vinte anos. se algumas pessoas o fazem, é apenas uma maneira tola de tentar se enganar da idade que tem. aprume-se! volta pro teu canto, ô velhote! qualquer tentação ou qualquer inclinação praquele gatinho do terceiro ano ou praquela ninfetinha de 19 anos na capa da playboy são moralmente inaceitáveis. get over it.

agora que o seu campo de caça está mais limitado, você deve aprender a caçar mais eficientemente. e o que faz um garotinho ou uma garotinha lubrificar o pijama não funciona mais, meus queridos. cantadas mais elaboradas, ou pelo menos mais sutis. e é claro, sempre estar alerta para a possibilidade de mais e mais foras e desencontros. porque? ora, porque o mundo é injusto e você não pode fazer nada para melhorar isso. e sempre tendo em mente o pensamento de que, se aos vintes não deu certo, já comece a treinar sua assinatura com "titia" na frente. sejamos realistas.

mas nem tudo é horrível ao chegar desse lado do muro. assim como não era tão ruim do lado ruim do muro de berlim, existe espaço para otimismo. por exemplo, você agora será admirado por um séquito de menininhos. se não admirado, pelo menos agradeça por ser respeitado. talvez você seja até chamado de "tio". lagriminhas rolarão, eu garanto. maturidade, responsabilidade, relevância. são palavras que até que enfim farão sentido (e não servirão apenas para enganar na redação do vestibular) e talvez sejam a linha permeadora de suas ações...ou não.

é amiguinhos, é um momento tipicamente traumático (e como foi pra mim...) mas deve ser encarado com a cabeça erguida e com pressa de viver. lembre-se que se você não fizer nada de importante antes do trinta você jamais fará algo grandioso, como já disse nosso amiguinho einstein (que fez o que fez ainda na segunda dezeninha).

mas bem, agora nesse momento uma barreira mental me impede de continuar no meu texto. então fico por aqui.

e até a próxima criançada.

sábado, setembro 13, 2003

Raphael Silva Nascimento e Seus Comentários Madrugais Inapropriados.

Esses dias eu tou me sentindo como um hímem complacente. Só tomando cabeçadas e tentando aguentar numa boa, porque eu vou me fudendo, me fudendo, mas tento não estourar tão fácil.

As vezes quando estou lendo um livro, vendo tv ou apenas vendo sites na internet eu me lembro de algumas pessoas e sinto uma vontade enorme de contar pra elas e dividir com elas o pequeno fragmento de memória que tive. minha melhor amiga, por exemplo, sabe muito bem quando eu ligo pra ela apenas pra dizer "po, eu li isso e me lembrei de você" ou "eu vi isso na tv e me lembrei de você". falo isso para apenas introduzir o próximo post e explicar o porque dele aqui. esse livro eu ainda não terminei, mas parei de ler (o que não é um problema, já que é uma coletânea de contos) e me lembrei dele através dessa menina abaixo. fique com o conto Nos Poços.

Para Lígia:

Nos Poços

Primeiro você cai num poço. Mas não é ruim cair num poço assim de repente? No começo é. Mas você logo começa a curtir as pedras do poço. O limo do poço. A umidade do poço. A água do poço. A terra do poço. O cheiro do poço. O poço do poço. Mas não é ruim a gente ir entrando nos poços dos poços sem fim? A gente não sente medo? A gente sente um pouco de medo mas não dói. A gente não morre? A gente morre um pouco em cada poço. E não dói? Morrer não dói. Morrer é entrar noutra. E depois: no fundo do poço do poço do poço do poço você vai descobrir quê.



de Caio Fernando Abreu, do livro de contos O Ovo Apunhalado. E esse é um conto completo.

achei uma boa idéia e tenho mais um trecho guardado na manga do livro que estou lendo atualmente.

quinta-feira, setembro 11, 2003




então.
desde que me entendo como gente existe essa pessoinha em minha vida. e sempre, sempre que precisei ela esteve lá. e foi a pessoa que me fez mais feliz do que qualquer outra jamais faria. desde meus 15 anos essa é a principal protagonista de todos os meus sonhos e foi a mulher que abriu meus olhos para uma vida com um sentido e uma razão de existir. e crescemos juntos com planos em conjunto também. se há um porto seguro para mim, é ela e dela vem tudo o que me faz ainda continuar querendo viver (e ter-la) para sempre. mas por mais que eu tente resgatar o mínimo que seja em palavras, nunca eu vou conseguir exprimir o quanto eu amo essa menina. o quanto eu quero continuar escrevendo a nossa história. nem toda literatura do mundo vai enquadrar o que eu sinto por você.

mas se há uma palavra, uma frase ou qualquer outra coisa, vamos ficar com a mais comum: eu te amo.

(feliz aniversário de namoro, mari. =*)

quarta-feira, setembro 10, 2003

aulas começadas já com transtornos. taxistas de táxis lotação protestam aqui e quem se fode somos nós. pra quem não conhece a topografia aracajuana, para chegarmos à universidade temos que atravessar um rio por uma ponte, ponte essa que também serve de demarcação da fronteira entre as cidades de aracaju e são cristóvão, onde estudo. pois bem, os taxistas do lado de lá protestam fechando a ponte e quem ganha um dia a mais de aula sou eu. se nem ônibus chega na universidade, porque eu vou pra lá?
e para quem viu o jornal hoje de ontem, percebeu que no segundo dia de protesto os taxistas de são cristóvão ficaram mais assanhadinhos, queimando ônibus (quem viu o ônibus explodindo na tv? legal, ein?) e não permitindo a passagem de nenhum veículo motorizado pelas vias fronteiriças aracaju/são cristóvão e aracaju/nossa senhora do socorro. pois bem, nesse dia eu resolvo ir pra aula.
na verdade estou indo na universidade mais para cumprir tabela. afinal, estou lá só em corpo presente. não tem nada mais angustiante e sufocante do que aquele ambiente e minhas aulas/colegas/professores são apenas mais um lado do problema,e bem, um dos lados piores.
e para finalizar minha terça-feira uma caminhada básica na beira da estrada escura, cruzando ponte (a própria ponte dos protestos), invasão, campo de desova de cadávers e o escambau. sozinho e no escuro.
bem, pelo menos tive sorte de conseguir uma carona quando já estava quase me canonizando. valeu, meninas.

é isso aí, estou em aulas. o blog será menos atualizado, ou até mais. sei lá...

até.

segunda-feira, setembro 08, 2003

O Ai! Minha Santa Aquerupita! foi citado na seção "Blog Nota 10" da coluna do jornalista Luiz Gravatá n'O Globo.
Isso mesmo, n'O Globo.


Ah, sim..errr...é, meu nome está errado certo no site.


Nem sei o que dizer. Muito obrigado.


Update: Corrigiram o nome no site. Valeu Luiz.

domingo, setembro 07, 2003

sete de setembro.

eu tenho uma lembrança muito boa de sete de setembro. não vou dizer nada sobre patriotismo ou sentimentos nacionalistas porque realmente não me encaixo nesse perfil. pra mim, tudo foi uma encenação das mais típicas da américa do sul. coisa da televisa. e meu sentimento patriótico não vai muito além de gostar de viver na minha casinha desde que nasci. mas bem, vamos à lembrança.

sete de setembro pra mim era ir pro interior. pra casa dos meus parentes maternos, em Lagarto. nas grandes cidades é um costume muitas vezes inexistente ou até relegado para alguns gatos pingados, mas no interior o desfile de sete de setembro é um evento na cidade. em Lagarto especialmente (por ser o único lugar onde experienciei isso) o sete de setembro é bandinha das escolas da cidade desfilando na única avenida da cidade (bem, não única, mas maior) e todo o rol de coisas de desfile, como as porta-balizas e os estandartes das escolas. não tinham carros alegóricos, era uma coisa miudinha, mas cheia de um glamour caprichado e que mostra o trabalho do ano inteiro pra fazer um belo desfile. dava pra ver nos "doirados" e nos prateados, nas rendas e nos bordados, o suor de uma gente que se esforçou o ano inteiro pra fazer um desfile bonito.

minhas primas, as filhas da minha tia Nane, sempre desfilavam. na bateria, como porta bandeiras, etc. ou seja, sempre tinha alguém pra procurar com os olhos bem abertos, câmeras em punho. minha bisavó morava na avenida com meu bisavô e minha tio-avó. ela desde cedo punha cadeiras na porta para "guardar lugar" porque à tarde, estaria apinhado de gente pra ver as bandinhas e as meninas e os meninos desfilando no sete de setembro. Vovó Delice, como eu a chamava, tinha as mãos muito enrugadas e era muito doce comigo. Especialmente comigo, eu sempre achei. E tinha sempre surpresas pra nós quando íamos pra lá, como o "trocado pro sorvete" que sempre era bem mais que o nome sugere e tinha docinhos, maniçoba, majongome e a "carninha durinha" que ela fazia e eu adorava.

tinha pipoqueiro e doceiro nas ruas. tinham as crianças da minha família, que como eu implorava pelos doces e pela pipoca depois que cada bloco passava. eu reclamava sempre pra não ir. mas chegando lá a coisa era outra. me divertia e até hoje sinto uma coisa muito boa quando escuto as marchinhas que tocaram nos meus setes de setembro. era um corre corre pela manhã pra nos arrumarmos e pegar nosso camarote do lado de minha bisavó, que não perdia um desfile.

eu tinha medo dos moços dos bumbos que giravam as baquetas e tocavam cada um com uma técnica e uma maneira toda especial. eu tinha medo dele me acertar na cabeça e eu morrer ali. eu morria de medo e minha mãe concordava "sai de perto do meio-fio menino". mas eu sempre quis ser como um daqueles. e girar as baquetas amarradas em tecidos nas minhas mãos. quem sabe um menino também quisesse ser como eu? quem sabe eu fosse alguém pra se espelhar? eu sempre quis ser "o moço do bumbo" algum dia (não, nunca fui).

sempre nosso sete de setembro significou pra mim o feriado nacional pra ir pra calçada ver o desfile. mas depois que meu bisavô foi embora, e um certo tempo depois minha vovó delice, todo sete de setembro é igual ao oito de outubro ou o quinze de fevereiro. é um dia qualquer.


hoje eu joguei cartas e chequei meus e-mails.
droga de trânsito rápido da cidade.

acho que vi júnior-cover (um dos clássicos desse blog) de novo! foi de relance...não estava arrumado, mas de bermudas. mas acho que dançava ou se comunicava com o seu público invisível.
acho que foi isso que eu vi. a droga de trânsito da cidade não me deixa ficar parado no meio daquela avenida que rasga a cidade no meio sem que seja fuzilado por buzinadas. droga, droga, droga...
reformão no blog ao lado.
lugares que eu ia mas não linkava e lugares que não ia mais e continuava linkado e coisas do tipo.
vou continuar mudando, adicionar novas seções de links.
continua fuçando.

sábado, setembro 06, 2003

enquanto isso...

eu tento me acostumar à idéia da voltar à universidade. porque desde que comecei esse quinto período não consegui me acostumar. ainda não começou. estou em 2003/1. não comprei nem caderno nem lápis ou canetas. não comprei nem uma pasta sequer pra guardar as cópias que eu não tiro. não tenho quase nada a ver com nada naquele mundinho de academicismos e palavrinhas irritantes. o que me consola são os três gatos histéricos, às vezes. os felinos são os animais mais hipnotizantes que existem. outra coisa é o papo de bar em bar, de trailler em trailler, de mesa em mesa, de banco em banco. sem nenhum lugar fixo, indo aonde meus pares verdadeiros estão. mas as aulas apenas são a desculpa para eu sair da cama com o mínimo de vergonha na cara. chegando lá a vergonha e a moral se dissolvem no primeiro sorriso que eu ganho longe de tudo o que me faria ir pra lá antes.

eu não consigo ir sem sofrer. mas eu vou mesmo assim. se interessa a alguem, eu posso elaborar isso mais tarde. mas deixa eu dormir agora.

terça-feira, setembro 02, 2003


Ein? Cor...quem?


já ouviu falar nos ingleses Andy Barlow e Lou Rhodes, do dueto eletro/lounge Lamb? E no Dj japonês Keigo Oyamada, mais conhecido como Cornelius?

Não?

nem eu. e até hoje nem saberia que raios é que eles faziam até que finalmente chegaram os discos encomendados na semana passada.

"como assim, você não disse que nunca tinha ouvido falar? e COMPROU os discos?!?"

eu tenho uma coisa com discos e música que é normal para mim, mas assustadora para algumas pessoas. eu compro discos de bandas que não conheço nem nunca ouvi falar, sim. E daí?

eu tenho essa curiosidade com música que não me arrependo de comprar um disco sem saber do que se trata (desde que não muito caro) e depois descobrir a porcaria que é. acho muitas vezes que oportunidades são perdidas quando você apenas se liga em comprar as coisas que acabam caindo na sua mão ou que você "descobre" ao ler numa coluninha de jornal ou revista. muitas coisas boas aparecem e desaparecem sem nunca serem notadas simplesmente porque não apareceram no seu caminho antes de você pensar onde você vai gastar seu dinheiro. eu tenho exemplos de coisas muito ruins que comprei e acabei descobrindo serem coisas horridas (vide Dropkick Murphys, que ainda me causou uma lesão patelar). mas tenho muitos outros exemplos de coisas que fiz no "impulso" e acabei descobrindo paixões incuráveis. se não fosse eu ter comprado a trilha sonora de austin powers por 6 reais no supermercado (e mesmo quando nunca tinha nem ouvido falar daquele disco) não descobriria o quão lindo o Cardigans pode ser, e nunca descobriria uma das bandas que eu mais sou apaixonado de todos os tempos (e que até me daria uma relação muito boa com um componente da banda): The Broadcast.

pode me chamar de indie, de consumista, do que for. esse costume meu é algo que realmente me proporcionou coisas muito legais. dez reais é algo que você gasta numa noite em bebida (que no fim vira urina e tchau dinheiro), mas se você arrisca num disco, além de toda a emoção que vem do momento que você paga no caixa até a primeira impressão no som de sua casa ou carro (ou no meu caso, no tempo de postagem ) você pode ganhar uma paixão nova. ou pode dar de presente essa paixão à alguém. se nunca tivesse comprado aquele cd do Luna mesmo sem nem saber que raios me esperava com aquilo, mariana não teria mais uma banda para gostar (e olha que ela gosta de poucas).

os outros discos que acompanharam esses dois tiros no escuro foram o novo do Superchunk (que aliás foi um tiro no escuro mas com expectativas, afinal já conhecia a banda) e mais um pra minha coleção do meus galêsinhos preferidos do Gorky's Zygotic Mynci. uma banda que eu adoro e que advinha como descobri? comprando as cegas depois de ver uma piada num site sobre o nome da mesma.

esse post é um conselho humilde. arrisquem, apostem na sorte. comprem discos baratinhos só pela paixão e pela surpresa de descobrir novos sons e talvez encontrar novos vícios.

dica de um lugar bom por onde começar a procurar sua bandinha-desconhecida: PeopleSound.Com

sábado, agosto 30, 2003



depois de quase um mês o livro tem um desfecho agora. ainda meio arrebatado pela crueza do livro eu tento ver se consigo escrever alguma coisa sobre ele. ou pelo menos sobre mim depois dele.

Petersburgo, 1856


essa sala agora é quase o “manicômio social chamado Peterburgo” e depois de ser arrastado até o fundo do poço, o autor ainda me empurra em direção ao Abismo. não é como todo livro já que o final não é nem de longe feliz, mas também não é em si um final triste. é um final verdadeiro ao extremo. um final-limite. de uma beleza terrível, como ele diria.



O homem é um enigma, se você passou a vida inteira tentando decifrar esse enigma, não diga que perdeu seu tempo. Eu quero compreender esse enigma, porque eu sou antes de tudo um ser humano.*

o enigma se apresenta na forma do “positivamente belo” e “idiota” no príncipe Míchkin; da beleza quase tirana, extrema e terrível e na irrascividade e “loucura” em Nastácia Filíppovna; da determinação absurda do ciúme e no extremo da condição de perdido e do “desregramento mundano” em Rogójin; das inquietações de uma família decadente em busca de um porto nas delicadezas totalitárias da antiga alta sociedade russa no meio de um turbilhão de acontecimentos e escândalos dos Iepántchin; enfim, em todos os personagens únicos e profundos que os cercam. cada vida retratada com detalhismo psicológico cruel, quase terrível. os Homens-comums, os Homens-supérfluos, os Homens-originais, os Homens-de-ação são arquétipos que não resolvem o enigma, mas mostram as nuances do que é ser Humano.



Petersburgo, meados de 1860



o zelo com que Dostoiévski descreve todo esse mundo cinzento da enevoada Peterburgo e da asfixiante beleza (porém um pouco feliz, apesar de tudo) de Pávlovsk e cada vileza e nobreza dos homens e mulheres que os povoam é vista com clareza afinal, escreveu o livro “com deleite e inquietação” como o próprio promete, no meio de problemas com dívidas de jogo, crises epiléticas e viagens ao exterior.


foram nos bancos verdes ao redor desse parque em que Aglaia Iepántchin e príncipe Míchkin se encontraram. Dostoiévski se baseou num parque real na cidade de Pávlovsk ao escrever grande parte da narrativa.


não dá pra não se apiedar do personagem e do autor. ambos epiléticos e arrebatados por um amor verdadeiro e puro. seja um amor pela “beleza terrível” seja um amor pelo “enigma humano”, o livro é basicamente um tratado sobre o que é o amor (em todas as suas modalidades) e todos os sentimentos subjacentes e conseqüentes a ele. como o ódio, o ciúme, o desespero, a melancolia, a angústia; e sobre o que o amor leva as pessoas a fazerem.

outro autor russo, Mikhail Bakhtin, verdadeiramente e irrefutavelmente afirma que os personagens de Dostoievski não “vivem uma vida biográfica (...), pois Dostoiévski concentra a ação nos pontes de crises, fraturas e catástrofes”, isso é tão presente na obra que chega a ser sufocante ler a vida dessas pessoas sem ao menos se emocionar.


o abismo


agora a angústia que me causou o final do livro já diminuiu um pouco, mas uma melancolia e uma certa compaixão pelo ser humano ainda estão aqui, com sofreguidão a se arrastar por minha cabeça. e tudo que eu escrevo agora soa quase imbecil, portanto eu faço minhas as palavras de Boris Schnaiderman quando diz que “decorridos tantos anos, e depois que se gastou tanta tinta com o romance, aquele desfecho continua desconcertante e abissal, um verdadeiro desafio à nossa capacidade de aceitar as ações de uma personagem literária”.

depois disso eu não quero dizer mais nada para não soar pior ainda. apenas leiam “O Idiota” de Fiódor Dostoiévski e se maravilhem com essa que é uma das maiores obras de um dos melhores autores de toda a literatura mundial.

raphael, 29/08/2003 às 13:14h

*obrigado à Ligia que me mostrou essa frase.

leia o livro (em inglês) aqui.algumas fotos foram retiradas daqui e daqui. sem permissão de ninguém, mas obrigado e desculpa.