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eu tinha uma linguagem pra falar com o mundo e me esqueci. e minha lingua falava de coisas que só existiam pra mim, criava outro mundo onde o que eu falava era e assim o era porque eu dizia assim. eu não tinha medo do improvável porque na minha lingua não tinha o tempo futuro. tinha outro nome pra outro tempo que não era sonhar, pois sonho não era uma palavra, mas também não fugia muito disso. fugir não existia porque onde quer que fôssemos, na minha lingua, estávamos em um lugar que eu poderia traduzir como casa, mas que hoje eu já esqueci o que é. também esqueci como chamar os sons, os gostos e as cores do mundo. seus olhos tinham a cor que eles tem, mas numa palavra que era só minha. uma cor só minha. não era verde, vert, green, groen, grün. era a cor que eu esqueci. e lembrar eu não precisava, porque eu podia criar e fazer da memória o lugar onde eu brincava o agora. ah, se o tempo fosse importante... eu tinha uma lingua pra falar do mundo e esqueci o que o mundo era antes de poder saber se eu sou também assim. e agora o que eu espero é até quando eu vou esquecer o mundo que eu deixei pra trás.
e o que deixarei.
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