quarta-feira, janeiro 23, 2008

ars est celare artem

tornar-se adulto é um exercício de desaprender a verdade íntima das coisas. adultos mentem o tempo todo, ao ponto de esquecer o que os liga à realidade e a ponto desse exercício tornar-se lugar-comum como ferramenta de interação social. pais mentem o tempo todo, julgando ter a verdade e sua manipulação como um bem ou como um instrumento de poder por sobre sua cria indefesa contra as palavras grandes do mundo. e como criança que fui e não admito ainda poder ser, fui criado em volta das mentiras dos adultos e dos pais. esses que mentiram contra e a favor de si mesmos, entre e intra si mesmos, pra todos, pro mundo e principalmente pra mim. aprendi com a mentira deles pra mim a como mentir pra mim mesmo. aprendi com a mentira deles pra eles mesmos a como mentir a mentira dos adultos. cresci e virei mentiroso como eles, talvez um motivo de orgulho se não fosse uma grande verdade que a mentira é orgulhosa só quando a vestem de verdade por muito tempo. e talvez vivemos um mundo de mentirosos orgulhosos, nenhuma língua conhecida possui o verbo pra dizer a verdade, mas cada uma tem seus vários verbos, gírias e corruptelas pra dizer a mentira. soltar o caô. enganar. trapacear. vilipendiar. calúniar. enrolar. a mentira machuca, mas a verdade mata. crescer dói em cada junta e em cada descoberta.

aprendi com meus pais à mentir pra mim mesmo porque talvez nem tenha sobrado muita verdade num mundo tão cheio de adultos.

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