enquanto escrevo a minha vida não é cada palavra que escolho que me constrói, mas sim o espaço em branco que eu deixo depois de cara vírgula. de cada ponto. depois de cada texto escrito. é o espaço em branco que eu mancho com letras e o silêncio que destruo com cada som de minha boca. e cada som que faço só me diz que existe um silêncio cada vez maior. seja uma folha, seja uma tela limpa, seja o próprio tempo, o que falta ser é aquilo que mais faz de minha vida aquilo que ela não é. se entre ficção e realidade sempre estou eu, as mentiras e verdades de minha vida nada mais são do que o reflexo de cada cor que pinto no vazio. em cada palavra existe uma promessa de controle, existe o autor que indica o caminho, seja qual for o autor que que encarne a pena, seja qual for o caminho que a contingência e a aleatoriedade escolha. e se essa promessa de controle está na ficção, cada espaço em branco que se segue é do domínio da realidade. e em cada realidade, o presságio de que somos um espaço fora do espaço, de que estamos num tempo fora do tempo, se expressa no que deixo de falar, no que deixo de escrever. enquanto escrevem minha vida, cada palavra que escolho não fui eu quem inventou, não sou eu quem as uso, mas é o espaço em branco que vai ser maculado que constrói tudo o que há de ser dito.
e se em cada promessa há a certeza da quebra, não sou eu quem diz. é o silêncio.
e se em cada promessa há a certeza da quebra, não sou eu quem diz. é o silêncio.
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