existe um pedaço enorme de tempo indo embora e as mãos não são bastante para agarrar o que sobra. as migalhas escapam por entre os dedos e o que sobra não só é vazio. mas um enorme vulto. da parte grande que se vai. a vista perde a vista. o som da ida não mais se ouve. o adeus foi dado às costas de alguém que não estava ali por você. o cheiro e o gosto são daquilo que já se esqueceu. mas que sabe que parece ser bom. lembrava ser bom. as migalhas caem por entre os dedos e o tempo escorre por entre as frestas abertas de cada marca deixada. de cada cicatriz aberta. existe um pedaço enorme de tempo indo embora e as mãos estão ocupadas com duas. quatro. oito coisas. malabares de pinos infinitos. jogados pra cima. sem mãos suficientes pra pegar quando vão ao chão. o tempo indo embora e os pinos caindo. as migalhas escapando e o tempo caindo. o vazio indo embora e o vulto de algo que já não se sabe se acomodando. tomando o espaço que um dia foi do tempo que foi embora. e que está indo embora. e que sempre vai embora. sempre foi embora. há sempre de ir embora. e as mãos ocupadas mas querendo dar o adeus às costas de alguma coisa que não está ali por você. as mãos ocupadas tentando segurar o tempo. mas as mãos não são o bastante. e o tempo vai embora. e os pinos vão caindo. e nada acontece. e tudo acontece à sua volta. e não tem como parar tudo e dizer que chega. porque tudo acontece. e sempre acontece. e sempre é agora. e é sempre ao mesmo tempo. e sempre as mãos não vão ser o bastante. não há mãos. pés. olhos. bocas. narizes. línguas. ouvidos. suficientes.
queria ter os dedos por entre os cabelos do tempo. pra carinhar a memória. os dedos sobre os braços do tempo. pra segurar o que vai embora. os dedos no ventre do tempo. pra avivar o calor de tantas estórias. e o tempo vai. os pinos caem. a cortina se fecha. o espetáculo não vai ouvir nenhuma som de palmas. e você está sozinho no escuro.
queria ter os dedos por entre os cabelos do tempo. pra carinhar a memória. os dedos sobre os braços do tempo. pra segurar o que vai embora. os dedos no ventre do tempo. pra avivar o calor de tantas estórias. e o tempo vai. os pinos caem. a cortina se fecha. o espetáculo não vai ouvir nenhuma som de palmas. e você está sozinho no escuro.
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