quinta-feira, junho 30, 2005



abriu a caixa e encontrou a carta, ainda manuscrita, talvez uma prova de que havia desistido de mandar, mas de que não havia desistido do que tinha ali.

"andalucia, diciembre 1923


escrevo a carta em linhas poucas, em frases rápidas.
escrevo curto pra você me ler.
sei que minha cicatriz encaixa na sua, mas meu corte não é o mesmo que o teu.
o meu sangra pra fora. o meu sangra pra dentro.
eu não vejo o seu sangue escorrer, eu não vejo o seu sangue.
eu quero sangue, eu quero lágrima, eu quero suor, eu quero.
estico os braços pra te fazer caber dentro de mim.
as cicatrizes que se façam memória, que há ainda muita carne para ser cortada.
muita pele pra ser tingida da cor de nosso sangue.


a carta acaba, mas fica o sentimento.

eterno, e ternamente
p. "


avaliou o conteúdo e nada entendeu. amassou e jogou fora o papel amarelado, quem sabe tinha alguma coisa de valor dentro da caixa que ela pudesse penhorar?

Nenhum comentário:

Postar um comentário

E aí?