aquela palavra dizia tudo secamente, não queria perder tempo tentando explicar e inventariar tudo aquilo que sentia. faltava a palavra que iria dizer tudo, tudo, tudo. e do outro lado do telefone tocava uma, duas, três vezes. ainda pescava a palavra de dentro de algum fosso desconhecido dentro de si mesmo e alô. alô, sou eu. mal havia pensado e a palavra pulou dele para ela, um telefone no meio. falei, mesmo. do outro lado dava para ouvir o acordeão e o piano bem baixinho, era a música deles. dava para ouvir o som da rua dela. o som da casa dela. fechava os olhos e dava pra ver ela sentada no sofá branco ou deitada no tapete. a sala vermelha era testemunha. fechava os olhos e dava pra ver a foto dos dois. dava pra ver a praia que ela todo dia via da janela. sentia os braços eriçarem da brisa do mar que parecia sair do telefone e tocar de leve as suas orelhas. só não dava para ouvir ela. repetiu mais uma vez, aquele telefone sem fio e o som alto poderiam ter confundido. nada ainda. a respiração tinha mudado, sentira. mas passou um, dois, três segundos, duas horas, um dia, três semanas, um mês, todo o resto de sua vida e ele no telefone não ouvira nada de volta. tá, tchau. nenhuma lágrima, pôs o casaco e saiu na chuva mesmo.
o céu chorava por eles.
o céu chorava por eles.
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