quarta-feira, julho 26, 2006

aula básica de estatística social aplicada:

quanto menos pessoas importam, maior a probabilidade de todo mundo te deixar na mão.

segunda-feira, julho 24, 2006

"existe uma palavra na lingua portuguesa que..."

fissura. muita ânsia de ter algo em sua presença e ao mesmo tempo rachadura. quebra. falha. fratura. se uma palavra define aquilo que eu não sei o que é agora, é fissura.

quarta-feira, julho 19, 2006

se eu choro é porque te perdi, e porque cada vez que choro eu te perco mais um pouco. choro porque já estou chorando, e porque eu já chorei muito. choro também porque lembro, mas isso é bom. mesmo que enquanto eu lembre, eu chore, melhor do que esquecer. pras coisas que eu esqueço, eu choro mais um pouco porque eu as perdi e cada vez que eu choro, eu as perco mais um pouco. é porque eu sou vazio de tanta coisa que me enche. é pelas faltas que ocupam mais do que as presenças. é pelos momentos ruins que eu apaguei para que os bons sobrevivessem. se eu choro é porque eu te perdi, mas eu já teria te perdido antes e choraria mesmo assim, assim como eu te perderia depois e choraria novamente, porque eu já chorei antes. e é tanto choro mas não cobre um oceano, um lago, uma poça, um copo d'água, uma mão. é choro que entra por trás dos olhos e fica guardado em algum lugar lá dentro, esperando pra voltar. é choro que fica nas costas da mão, no antebraço, esperando para que a sensação de lágrima se esqueça em algum canto. é choro que fica no seu ombro, te afastando de mim e te mostrando o que eu sou. e se eu choro agora, é porque eu já chorei minha vida inteira.



e se você ler isso aqui, talvez já nem importe. eu já te perdi.

sexta-feira, julho 14, 2006

pedacinho de sol

eu tenho um lugar preferido e ele fica em você. e meu lugar não só é espaço, é tempo. é quando seu pescoço dói e minhas costelas apertam. é quando mais faz sentido, e silêncio. é cheiro de você, seja qual for, mas é onde desce seu pescoço e seus ombros encostam o meu. é quando eu ouço você por dentro, é quando meu corpo se molha de seus olhos, é quando falta o ar, é quando sobra.

eu tenho um lugar preferido e ele fica em você, mas esse é mais difícil de chegar. esqueça o que dizem sobre os baús serem selados, lembra que dentro as vezes tem um tesouro. e só quem conhece, sabe. e só quando seu pescoço dói, minhas costelas apertam, tudo faz mais sentido, tudo faz mais silêncio, tudo tem cheiro de você, tudo fala dentro de você, tudo molha com seus olhos os meus ombros, quando falta o ar, quando sobra, só nessa hora, eu fico sabendo qual o meu lugar preferido. eu tenho meus braços marcados pra contar. e pra outras coisas.

se você sabe, eu não precisaria dizer. mas você sabe: eu sempre digo.

sábado, julho 01, 2006

little secret tremors

apertou as bochechas quentes com as mãos geladas como que fosse calar a voz que já não saia da boca. olhou os dedos e estava mesmo tremendo, não que não sentisse isso, mas checava com o olhar para se certificar que sim estou tremendo. não era frio, não era nervosismo, era talvez o excesso de coisas no seu corpo. ou talvez fosse o frio, as mãos estão geladas. ou o nervosismo, o quão paranóico se consegue ser quando se é paranóico? era também o excesso de coisas consumidas. a nicotina. o álcool. a confusão. estava na hora de se fazer uma pergunta, mas a pergunta não vinha. não que não viesse também a dúvida, essa já estava lá desde sempre. mas A pergunta não vinha. e não viria nem para ele, nem para o Outro. não que a resposta estivesse nele ou no Outro, mas se existem perguntas existem respostas em algum lugar. o algum lugar o preocupava, nele ou n'Outro, o algum lugar sempre o preocupava. mas o que não o preocupava? o preço dos cigarros talvez. estava muito caro, mas sempre se arrumava dinheiro. não era o preço dos cigarros, os cigarros nunca faltam quando realmente se procura. não era o Outro olhando-o a noite toda. o Outro sempre o olhava, mesmo quando olhava apenas para não o ver e sim para manter um contato. o olhar é monossilábico mas pluri-interpretativo. o olhar não diz nada quando não se quer que ele diga algo. Algo. ou qualquer coisa. as mãos geladas tremiam e era o cigarro, apostava. mas como num teste acendia outro. outro. outro. outro. a mão continuava tremendo, a ciência dizia. era o cigarro. apertava as bochechas quentes com as mãos frias. o tremor parava. era o cigarro, pensava. mas não parava. apenas o conforto das bochechas quentes dava o apoio suficiente para que a mão parasse de tremer. como se o tremer não fosse o cigarro, e era o cigarro. como se o tremer fosse a hesitação de cada dedo da mão se equilibrando para manter-se ali. em algum lugar. longe do Outro. ou perto de si e das bochechas quentes. como se cada dedo fosse cair em algum lugar. no chão. no bolso. no pescoço do Outro. como se cada dedo se equilibrasse numa corda bamba na mão. era o cigarro. só podia ser o cigarro. o Outro ainda estava lá. mas ainda era o cigarro.

apagou o último cigarro numa poça d'água. saiu sem deixar vestígios em ninguém.