terça-feira, dezembro 28, 2004



se tenho raiva e me irrito é apenas pra te mostrar que ainda sou feito de fibra e de carne e de muito sangue vermelho. sangue forte e que corre grosso, quase aos trancos, quase arrastando pedaços de mim. me irrito por um capricho, porque você sabe que é insignificante, mas eu tenho que mostrar o contrário só para discordar, só para frustrar você, só para te irritar. me irrito para te irritar mais ainda, e me deleito em gastar com isso um pouco de mim. porque sou feito de fibra, de carne e de nada. muito, transbordando. pulsando dentro de mim em sincronia com o que quer que pulsa dentro de você, você que não é de fibra, nem de carne mas no seu tudo me nulifica e me irrita, me corrói, me come os nacos em largas mordidas.

eu te amo e você sabe que eu não te amo, mas se te amar vai te machucar, então eu vou te amar com cada nesga de pulsão que pode haver em mim. vou te amar para sempre, vou te amar como um louco. vou amar os detalhes que você ama em você, apenas para que você se odeie. vou amar aquilo que você ama fazer, apenas para que você seja infeliz. e vou te amar de mentira, vou te amar de verdade. porque o amor é o pior sentimento do mundo, pior do que a saudade. assim há de ser: fibra, carne e sangue vermelho, tudo amando você.

então no momento certo eu vou deixar de te amar, e de te irritar. vou deixar de pensar em você, e sempre que pensar em você, eu vou saber que você não pensa em mim também. porque eu sei que do mesmo jeito que eu te odeio, você me odeia. do mesmo jeito que eu te irrito, você me irrita. do mesmo jeito que eu te amo...não, você não me ama. afinal, eu não sou esse. se você ama algo em mim, você ama o que não sou eu! você não me ama, não me odeia, não me irrita! você irrita outro, você odeia uma farsa, você ama uma mentira. em verdade vos digo, minto sempre.

esqueça as veias que te inundam o corpo, os humores que te fervem por dentro, o meu amor, o seu desdém, o meu pesar, o seu amar, o meu sofrer, o seu chorar. hoje estamos os dois sozinhos.

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