sábado, abril 23, 2005



para você-sabe-quem sobre você-sabe-o-que

houve a história de um homem que ao chegar em casa depois de um cansativo dia do trabalho deu de cara com uma enorme árvore bem no meio de sua quitinete. depois do grande choque inicial, tentou entrar pela já apertada sala e ver como aquilo tinha parado ali. era o terceiro andar, impossível alguma árvore nascer ali. procurou alguém, poderia ser uma piada, mas quem iria fazer uma dessas com ele? não conhecia ninguém capaz disso ou que quisesse ao menos se dar ao trabalho, e caralho, era uma puta de uma árvore. um baobá enorme, tão frondoso quanto um baobá conseguiria ser no teto baixo daquele apartamente, o tronco como se estivesse grávido de dezenas de outros baobás, as raízes rasgando o chão, fincadas como que magicamente em sua sala e ainda estragando o tapete . sentiu-se como no asteróide B 612, e ele, o pequeno grande príncipe, soberano único e maior daquela quitinete, sentiu-se como num golpe de estado, o que fazia aquele baobá gigante atravancando o caminho? o baobá relinchava, grunhia, grasnava em sua cara a incompleta incapacidade dele de sequer compreender aquilo, quanto mais tomar alguma decisão. não tinha decidido o que fazer nem com quadro na parede, última lembrança de amanda, o que dizer de uma porra de uma árvore gigante tomando mais de 60% de seu reino? acendeu um cigarro e ficou olhando aquilo. não podia ser verdade, então ele relaxava mais. conseguiu abrir caminho até seu quarto e dormiu. acordou e ela ainda estava lá. era verdade? talvez não tivesse acordado ainda. resolveu fumar outro cigarro, abriu caminho até o sofá, espremido agora pelo baobá e sentou para pensar o que iria fazer. perdeu a hora do trabalho e resolveu então dormir no sofá. acordou com o corpo coberto de folhas, sentiu-se afrontado pela árvore, conseguiu se esqueirar até a saída do apartamento e resolveu comprar um machado, iria por fim naquele acinte. no segundo lance de escadas parou. estava intrigado, como assim uma árvore? voltou ao apartamento, ainda estava lá, grávida, enorme, rindo. acendeu um cigarro, desistiu de ir até o quarto, desistiu de ir até o sofá, deitou encostado no tronco da árvore, deu alguns tragos no cigarro e começou a pensar. acabou dormindo. acordou tarde, tinha sido o melhor sono de sua vida, o formato de seu corpo desenhado nas folhas secas que haviam caído pela noite. puta que o pariu, uma árvore! ele tinha um tremendo baobá, ele, o grande príncipe do seu asteróide B 612, ele. faltou mais um dia de trabalho, acendeu mais um cigarro e adormeceu logo.

no outro dia acordou e foi trabalhar, devia ter sido demitido, é óbvio, mas pelo menos com a árvore ele já estava acostumado.

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