sábado, novembro 29, 2003

momento mulherzinha

mais uma vez cometo crimes ao numerário com compra compulsivas pero no mucho. pra quem já é familiar a esse blog ou a minha pessoa, mais uma vez compro cds sem ter a mínima idéia do que se trata.

mas dessa vez não foi um tiro tão no escuro assim. comprei o exciter do depeche mode e o brainwashed do george harrison. o primeiro já conhecia (e gostava) de um clipe, da primeira música "dream on". o segundo é do george harrison, e pô, o cara já foi bítou, não podia desgringolar de vez e fazer algo muito ruim...ah, esqueçam, tem o ringo.

o bom foi que isso custou a pequena bagatela de R$11,80 apenas. isso mesmo. R$5,90 cada cedê, no hiper g-barbosa (corram que tem o run devil run do paul também pelo mesmo preço e outras coisinhas legais) e o melhor de tudo: com dinheiro alheio! \o/

tá certo que eu vou devolver, mas considerem que uma promoçãozinha dessas não dá pra passar assim.

quinta-feira, novembro 27, 2003

o homem do início desse século acabou tornando-se escravo das máquinas que ele mesmo criou. mas ei! o einstein aqui nem precisou entender toda a trilogia matrix pra ver isso, nem precisou utilizar todo o potencial de seu neurocortéx circovoluncionado cheio de pregas, foi apenas a simples constatação de seus fatos diários do seu dia-a-dia.

mas o que eu estou colocando nessa minha balaiada teórica não é a dependência dos homens aos grandes meios de comunicação em massa, às redes invisíveis e internacionais de cartões de crédito, à dependência de fome das torradeiras computadorizadas que conseguem assar um pão de 1.500 maneiras possíveis e ainda imprimir um smiley na torrada. isso é vero pero no mucho. falo da dependência mais animal. da MINHA dependência mais banal, rasteira e boba. uma dependência à tecnologias renascentistas e autistas. falemos da minha necessidade de aparelhos na minha vida...

primeiramente houve o óculos. situação das mais patéticas: eu, homem criado no seio da mamãe, grande, forte e altivo, sendo um eterno dependente desses vidrinhos que tenho de sustentar na minha colossal napa narigal. inventado por algum vidraceiro míope numa antiguidade antiga qualquer, o que a tecnologia atual pode fazer para mim foi apenas diminuir em alguns kilogramas as portentosas lentes que tenho de levar na cara. mas que é algo primitivo, isso é. e ter de depender disso para minha vida é horrô. de ser um nada sem óculos. de não conseguir achar o próprio pênis sem a ajuda de lentes corretivas. nem de acertar o burado (da fechadura) sem essa ajuda especial.

mas agora dependo de outra grande invenção da história da humanidade. as muletas canadenses. incríveis. inventadas no final de um século já passado, ela diferencia-se das outras muletas pela falta do apoio subacal, que é substituído por alcochoadas "braçadeiras" de ferro. talvez isso se deva ao fato da marca cultural canadense de não usar desodorante e de ter as aquecilas sempre odorizadas devidamente, o que difilcultava o grip das muletas tradicionais, causando dezenas de milhares de quedas e até mortes....mas bem, o que importa é que dependo dessas duas varas de alumínio fodido para me locomover da cama-para-o-banheio-para-a-cozinha. o que não me emputece pouco, pois somado o peso do gesso, com a desegonçabilidade que me é característica à toda a física dinâmica que envolve o "muletar" (cunho hoje esse neologismo) para um lado e para o outro, isso acaba me causando mais transtornos do que parece. ridículo e patético depender disso.

mas é. e se não fosse já era.

encerro assim a incrível jornada da (minha) história humana de dependência de suas criações. no próximo capítulo: como o micro-ondas salvou a modernidade e possibilitou que uma revolução lentamente pipocasse (lindo esse trocadilho) e como o barbeador elétrico salvou da morte por hemorragia alguns milhares...

terça-feira, novembro 25, 2003

acabou.

depois de uma semana fora de casa, dormindo uma média de 2 horas por dia, chegando a trabalhar 21 horas seguidas, e sofrendo os maiores abusos mentais e físicos que um ser humano estudantil conseguiria suportar. foram diversas histórias, engraçadas e trágicas, que fizeram dessa semana uma semana inesquecível no bom e no mal sentido. nunca mais eu quero construir algo desse tamanho, não importa o tamanho da ajuda. mas mesmo assim vai ser muito difícil me acostumar com os corredores da didática 1 sem os bêbados, o lixo, os casais trepando, e os lençois e colchões espalhados com centenas de estudantes esparramados de ressaca. vai ser difícil me acostumar a dormir em cama (e por mais de 2 horas), a comer decentemente, a não trabalhar feito um condenado, a assistir televisão, ouvir música, saber das notícias do mundo, e sem ter uma menina convulsionando aqui, um estudante mineiro sumido e chapado em mangue seco acolá, uma gaúcha queimada de café andando por aí ou um beck de mais de 45 centímetros de comprimento sendo acendido as vistas grossas de pessoas abismadas... a normalidade sucks, e estamos de volta a ela.

sem contar que a graça toda que esse enep me trouxe só foi aparecer no final. quando as doses de álcool foram se tornando maiores e as horas de sono menores. quando os versos de "volta pra mim" do roupa nova fazem todo um novo sentido em que se misturam terror, susto e gargalhadas histéricas de um bando de bêbados insones. foi bom ter a vida sacudida por 1.200 estranhos entranhados na universidade que eu tinha me acostumado a não ver daquela forma.

ô se vai bater uma saudade disso tudo....

mas ano que vem tem mais (ou não?) no universo paralelo da UFS, a UFES. com personagens parecidos, histórias parecidas, cidades parecidas, e algumas faces conhecidas e queridas se sentindo em casa também.

antes eu me recusaria a proferir isso, mas esse foi sim um enep do cabrunco.

sexta-feira, novembro 14, 2003

XVIII ENEP


Bem queridos leitores, provavelmente estarei dando uma pausa aqui no blog por um tempo. Estarei ocupado com o evento acima, o 18o ENEP - Encontro Nacional de Estudantes de Psicologia, do qual faço parte da Comissão Organizadora, e que vai ser realizado na UFS - Universidade Federal de Sergipe. Vai ser uma semana de evento (do dia 17 ao 22) no qual terei que conviver numa atmosfera saudável que compreende libidinagem, afogadas em litros álcool, embalada por toneladas de cannabis sativa e, é claro, emoldurada na boa e velha política estudantil. Pelo menos estarei de fora dessa putaria, ralando pra que neguinho se acabe em sexo, drogas e forró pé-de-serra. Mas é tudo por uma boa causa.

Para quem mora nas imediações de Aracaju, vai estar acontecendo paralelamente ao ENEP um "festival" de música sergipana, como parte da programação cultural do evento. E é justamente aí que reside grande parte do meu trabalho. A quem interessar possa, a programação da semana:



Segunda-Feira (17/11): Show no mercado central (na Rua da Cultura) com Escamboada e Guerreiros Revolucionários. A partir das 20 horas.

UPDATE: Irão tocar agora, além de Escamboada, Joésia Ramos, UruBlues e outras atrações...

Terça-Feira (18/11): Show na UFS com Maria Scombona e Naurêa. A partir das 20 horas.

Quarta-Feira (19/11): Show na praça de eventos em São Cristóvão (a quarta cidade mais antiga do Brasil, hem?) com Bago de Jaca e a estréia de Dona Dores. A partir das 21 horas.

Quinta-Feira (20/11): Show na UFS e programação especial. Será o infame ENEP-GAY (christ, como eu odeio esse nome), uma festa à fantasia onde mulheres vão fantasiadas de personagens masculinas e homens de personalidades femininas. Pretexto pra putaria regado à muito rock'n'roll. Shows de Snooze, Please No! e Eloqüentes. A partir das 22 horas.

Sexta-Feira (21/11): Rave no mato. Em frente ao CACO, na UFS. Com o DJ Matanza Royale (SP) e um convidado especial (talvez o André "Urso" que andou dando umas discadas em Londres esse ano, ou o MOPA de Salvador). A partir das 22 horas.

Sábado (22/11): Despedida do ENEP na praia da Cinelândia. Luau-show (?!) com Reação, Seda de Pão e Zefinha Teta Cabeluda. A partir das 22 horas até a fumaça baixar...(SE baixar)

Bem, é tudo isso. Espero ver rostos conhecidos, ou então estarei em apuros. Me desejem sorte nessa empreitada absurda.

E não é que o logo combinou com meu blog? que mais chique, hein?

quarta-feira, novembro 12, 2003

capítulo 0

havia começado tudo errado depois daquela noite. porque as vezes os começos chegam mais traiçoeiros do que você já espera deles. porque os começos começam sem que você saiba. porque nunca que você saberia que um simples bom-dia pode começar algo diferente. como eu não sei agora.

e não existe a auto-comiseração nessas horas. não existe o "como é que você foi deixar que isso acontecesse?" nessas horas. é só você e aquele ponto gigante piscando assinalando o começo da espiral negativa. do príncipio de tudo o que não era antes. o começo de algo, algo errado.

porque ela era uma miragem. não podia ser verdade tanta coisa verdadeira num só espaço físico. num só comprimido corpo. dizem que deus é contido, que construiu tudo o que há em sete dias. oxalá se ele tivesse mais tempo, se ele criasse mais tempo! se deus fosse mesmo perfeito, ó que pecado, talvez seria ela sua obra mais querida. mais que o mundo com suas coisas viventes. mais que o universo com suas nebulosas ardentes. mais que a vida com suas sofreguidões pendentes. mais não era. porque as coisas tão belas assim carregam dentro de si a semente do terror. o terror de ter e de ser algo tão ameaçador às pessoas em seus desequilíbrios sentimentais, como eu, e de ser por si só, a arma que mata um, que degola outro, que tortura e que tange longe a calma de todos.

mas era ela ali. a dois metros dos meus olhos e dois mundos da minha alma. zombando do nosso lado da trincheira dos derrotados com sua presença áurea hostil. porque, porque, porque? se de lado a lado já haviam sido feitas as pazes de meu mundo inacabado com as coisas etéreas e distantes de meus sonhos, porque era a visão de pesadelo que vinha agora encorpada na mais bela e fulgurante aparição? invocando imagens e desejos em mim que antes eu despejava apenas nas lascivas e provocativas mulheres de revista e tv.

eram olhos cinzas e pernas alvas que roubaram meu fôlego. que abduziram minha atenção às coisas cotidianas, que eu fazia com maestria em meu canto perdido pelo tempo e pelas pessoas. era só pra ser uma cordialidade largada à toa, uma implicancia com a educação, uma formalidade burocrática e ordinária de um "bom dia", mas acabou que solavancou meu peito num queimar desgraçado de engrenagem velha renascendo, atravancou a fala e me impediu de corresponder à única resposta cabível no momento. meu "bom dia" nunca foi, mas meu dia acabou indo com ela, seguindo suas passadas leves, seu arrastar suave, seu planar macio, pelos caminhos que ela seguia...

e tropeçando em mim mesmo, segui o rastro de seu perfume seco e amadeirado por alguns minutos eternos. os cachos brilhando enquanto fluiam numa maré de sabores etéreos, espalhando faíscas e deixando o ar impregnado daquele tão evidente frescor e lividez. até que enfim alcancei-a e tomei seu braço em minha mão molhada e febril, a sua pele macia roçando entre meus dedos. a visão de seu rosto volta à minha retina, seus olhos cinzas surpresos, seus ombros hesitantes, os lábios esboçando qualquer sentimento incompreensível, eu ali. parado. suando como num delírio febril. as mãos enormes, sem ter onde pôr. o chão que olhava sem coragem, covardemente evitando os olhos cinzas, ela indaga sobre o porque e eu expiro sem o fôlego que a sua voz me rouba...

"bom dia", eu disse.


segunda-feira, novembro 10, 2003

capítulo 2

e em cima da cama estava ela. suas alvas espáduas cobertas apenas com o véu de inocência maculada que descia desde seus olhos cinza, um sorriso leve escapava sem querer dos lábios que ainda a pouco sonhava em ter nos meus.
e irradiava. o corpo num crepitar febril a emanar suas energias e seus cheiros, ainda envoltos numa sombra da puerilidade. a penugem bronze cobria da nuca aos braços num sedoso manto de arrepios, levemente eriçados pelo menor toque em seu pescoço, sensíveis aos chamados ansiosos de minhas mãos.

era a sexo que exalava, e era sexo que se inferia daquele contexto. mas as mesmas pernas firmes que abraçavam o meu corpo cada vez mais me sufocando eram as pernas que a arrastariam dali quando eu menos esperasse, eram as mesmas pernas que me afastavam de mim mesmo, eram o sagrado, o profano, o profundo. eram maculadas em cada veia púrpura que transparecia da pele a qual o Sol jamais havia lambido com suas labaredas de luz. porque nelas corriam o fogo que seu corpo frio esforçava-se a esconder, porque nelas corria o sangue que sua mudez tentava esconder, porque nelas havia vida que seus lábios falhavam em esconder.

e a nudez que figurou sonhos e incitou suores estava tão ali presente e era tão real que a resistência cedia antes de esboçar existir. afoguei-me em seus braços, em seus pêlos, em seus seios...e como um náufrago sem um destroço de esperança para me agarrar, me deixei levar em suas correntezas... na maré de suas delícias... no deleite de seus prazeres...

...mas em cada arfar escondia-se algo. porque os olhos cinza já não tinham o mesmo brilho opaco e vago, e dos cachos que se esparramavam sedosos sobre a cama já não se via o idílico sonho de perfeição. porque a boca que domei à própria língua escancarava-se em um contido silêncio. os lábios repuxados num sorriso sinistro de satisfação, a fazer pilhérias com minha sisudez. o ventre a queimar e a espalhar seu cheiro quente e viciante. as pernas que me sufocaram largadas sem energia. alvas. maculadas. impuras. porque em sonhos elas eram impossíveis e frias, distantes. suas pernas eram como deusas da minha mitologia própria, onde seu corpo era um olimpo imaculado e sagrado. nunca que se cruzariam em minhas costas. nunca que apertariam minhas costelas. nunca que seriam em minhas mãos devoradas.

era de culpa a lágrima que eu verti.

quarta-feira, novembro 05, 2003

A Terra é um planeta de forma esferóide, achatado nos pólos e levemente alargado no equador. A partir de cálculos feitos por geólogos e físicos, a terra tem aproximadamente um diâmetro de 12.700 Km e um volume de 1,08 bilhões de kilômetros cúbicos. A partir de um construto matemático baseado na lei gravitacional de Newton, os físicos podem inferir aproximadamente o peso do planeta por comparação de modelos de atração gravitacional. A partir desse método se imagina que o peso da Terra é um valor de aproximadamente 5,6 xextilhões de toneladas. Colocando isso em números:

56.000.000.000.000.000.000.000 de toneladas




Aí, né, eu estava tentando equilibrar tudo isso na minhas costas. 5,6 xextilhões de toneladas em cima dos meus ombros enquanto eu tentava ir vivendo minha vida. Mas quinta-feira 4 xextilhões serão depositados no passado. Estarei livre pelo menos da universidade, onde tudo veio se acumulando, piorando ainda mais o meu ano. Ainda falta muita coisa para meus ombros se verem livre de todo o peso, mas pelo menos vou estar bem mais leve essa semana. Bem, isso se eu conseguir passar em todas as matérias...

domingo, novembro 02, 2003

um dia perdido

deitado no colchão. sobre mágoas e lençóis encardidos de perdas.
um dia perdido no degelo de uma tarde que não passou pelos meus olhos. na manhã que poucas vezes vi tão cinza. na noite tão cheia de coisas que não gosto e coisas que não quero e coisas que não sinto. coisas, as coisas...

é difícil segurar a vontade, então deito. sobre minhas desilusões e fracassos. sobre o mesmo travesseiro remendado a lágrimas e apertos. mas é de verdade que me sinto. pelo menos isso, sinto de verdade.

mas divido alegrias, não tristezas. então em meu reduto sou nobre por não ferir esses princípios tão caros e tão fúteis e tão bobos. em minha reclusão solitária me mantenho fiel às convicções tão frouxas que carrego como uma cruz em minhas costas. e peço desculpas pela fraqueza que com uma força descomunal me enforca quase solícita, me fazendo desistir de encontrar algo pra passar a dor.

e deitado no colchão forrado em desespero, perco o dia como quem perde qualquer coisa perdível. perco a manhã em lampejos de uma luz que teima em queimar meus olhos. perco a tarde na escuridão do meu sono. perco a noite em frente aos meus próprios pesadelos.

porque é de perda que eu ganho os meus dias.