quarta-feira, abril 14, 2004

a minha elena.
o texto que se segue é a minha farsa

eu estou cansando do que anda acontecendo com minha vida. e sou eu mesmo que estou falando.
porque as coisas que estão sob meu controle direto dão sempre errado, e as coisas que me escapam ao controle ou não ajudam em nada ou apenas trabalham contra mim. é toda uma conjunção caósmica que se configura em leis da física e variáveis prognósticas com o simples intuito de tornar minha vida uma merda. digam que eu não estou tentando, eu estou, porra. eu tento, eu retento, eu tento retentar tentando todas as vezes mas dá errado. errado. errado.

tudo desandou. continua desandando. e eu tou caminhando pra frente sem saber o que deixo pra trás e sem ao menos saber o que vem pela frente. é como estar numa esteira no escuro. caminhando sem sair do lugar e sem saber o porque. não era melhor apenas parar e descansar para sempre?

a minha elena me deixou em sua porta por 99 dias e 99 noites e não veio ao final me dar um selo de nosso pacto. afinal, que pacto? a minha elena só é algo pra mim! e eu, que sou? eu sei que não sou nada, mas ser um nada frente ao quem é tudo nos deixa assim, triste e exaurido. e olha que parecem os dias mais felizes da minha vida! e até digo, "olha que diversão! como sou feliz, olha!" mas porra, olha bem pra minha cara, olha bem no fundo dos meus olhos, me estupra a alma com esse seu olhar de quem não quer me ver e me diz: onde está a merda da felicidade? você sabe que eu sou infeliz, você não sente culpa nenhum, mas pô, você não tem culpa e o pior pra mim é você ter culpa sim, de alguma maneira ou de outra, porque eu sou um nada e você é tudo. porque todos os ricos tem culpa pelos pobres, e nem adianta vir com teorias de auto-crescimento e esforço pessoal que eu não entendo, eu estou cego, esqueceu?

por isso que eu grito um efusivo "pau no cu do amor" depois daquele massacre emocional que eu me envolvo de propósito. eu sabia que ia chorar, eu sabia que eu ia te rever, minha elena, eu sabia que ia reviver todas as mágoas da infância, da adolescência e disso que eu teimo em não aceitar como minha fase adulta. ah, porque? porque eu não cresci ainda. "quando é que você vai crescer?". porra, fica fácil você falar isso aí do alto de toda sua montanha russa emocional e de todos os seus sucessos estéticos, morais e pessoais. agora vem cá falar na minha cara que é fácil que eu rio de você. ou eu choro, quem sabe?

como é que eu vou me ver adulto se agora mesmo, nesse instante, eu me vejo com 17 anos, mesmo estando com 21 já bem feitos? eu estou com 17 anos e fazendo coisas que quando eu tinha 17 anos eu não tinha mais saco pra fazer. eu involui, eu desandei mesmo. logo eu, tão certo de mim mesmo, tão loquaz, assaz e voraz (ah, que besteirol). eu fui maduro demais nos meus 17, pulei essa fase que agora passo, pra ter que agora sofrer por ter que voltar a um estágio que eu mesmo repudio. mas fazer o que se me roubaram todos os anos findos e os anos que ainda viriam? ah, "bola pra frente!". como? se nem pernas eu tenho mais pra isso? se nem ao menos esquecer um pouco e sair correndo eu posso sem ter minhas pernas me desobedecendo e indo dolorosamente ao chão? sou um velho patético sem ainda nem ser velho.

"eu sou menino"

é companheiro amaral, eu sou menino mesmo. um menino babaca, idiota, frágil - que droga, porque logo isso! - e ainda inocente. porque eu não volto a ser a pessoa leve e suficientemente fria para encarar qualquer coisa com obstinação e determinação quando dos meus 17 anos? por cthulhu, onde foi que eu morri e me enterraram? porque eu quero me violar e voltar a ser eu mesmo porra!

a minha elena é apenas essa ilusão que me atazana. o meu fantasma particular. não tem os mesmos olhos azuis ou os cabelos castanhos e encaracolados que destruiram sua vida, totó. mas ela tem toda a sua gama de armadilhas escondida naquela beleza incomum e inigualável. é, meu querido totó, porque todas as vezes é uma pessoa diferente que atende o telefone? você sabe, assim como eu sei agora, que uma vez que você sente isso, nunca mais você sentirá. a vida não anda pra frente, a vida não anda. pelo menos não até que você encontre outra coisa mais vã e fácil de se diluir. um vício, um jogo, uma obstinação irracional em qualquer coisa.

aí é a hora de falar dos escapismos, "ah, você não bebia antes e agora está assim...". claro, pô. eu até poderia fazer uma piada sobre o inebriamento do amor, mas seria injusto com vocês e provavelmente ninguém riria (ou nem saberia que é uma piada). "você bebe para aparecer", não minha querida irmã. eu bebo para justamente acontecer o contrário, eu bebo para que o raphael que eu odeio suma e esvaeça no raphael que eu tenho vergonha, mas que me parece menos insensato. não que tirar a roupa em lugares públicas e beijar a torto e a direito seja algo sensato, mas lembremos: raphael tem apenas 17 anos.

a minha elena me deixou 99 dias e 99 noites na sua porta a esperando, mas isso sem ao menos saber que eu estou a esperar. e estou? ah, eu faço parecer que sim? eu te amo? porra, eu sou um eterno apaixonado! mas será que é você? não minha cara, você roubou minha elena e se apossou de seu corpo, de seus dotes, de seus maneirismos e de toda a sua vida! você até roubou todos os meus amigos, mas você não é a minha elena! ou será que eu estou tão confuso a ponto de não saber mais quem sou eu ou quem é mais você? será tudo mais uma ilusão? eu vejo embaçado pelas lágrimas e ainda estou abalado pelas coisas que nos falamos ao telefone, mas entenda: raphael tem uma alma atormentada. uma alma de 17 anos.

"se queimou por muito pouco"

é, eu sei. esse texto todo é uma tentativa infantil de te chamar a atenção. você que eu nem sei se vai ler... você, elena.
mas entenda aqueles que são atormentados como eu, perturbados por uma coisa que não conseguem compreender e que não encontram amparo na vida. que droga, eu estou desamparado! isso é triste porque eu te peço a mão, o braço...eu quero você toda. eu te amo? eu já nem sei mais... o amor é uma forma de loucura, e eu provei muito dele e por tempo demais e agora estou insano e delirando com essa cabeça doentia uma forma de tentar expurgar o inquilino traiçoeiro que se aninhou em meu peito.

alfredo, eu também não entendi a sua história. mas eu sabia que escutar ela de novo daria nisso. amanhã te pedirei perdão, elena.

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