"Em fins de novembro, clima morno, por volta de nove horas da manhã o trem da estrada de ferro Petersburgo-Varsóvia se aproximava de Petersburgo a todo vapor..."
essa é a primeira frase de O Idiota, de Dostoiévski, livro que pretendo começar a ler.
Existe uma coisa fascinante em Dostoiévski e no mundo que ele retrata, onde os personagens perdem o brilho e a aura característica da literatura pra arrastarem-se foscos e rançosos por um mundo de miséria e definhamento. E se o atrativo maior não é serem seus livros ambientados numa Rússia real, crua e suja que já não existe mais, talvez seja então o comportamento humano que se apresenta e que se é designado em sua maior amplitude.
O homem é verdadeiro e profundo em Dostoiévski. Talvez um pouco mais feio, ou um pouco mais pobre. Talves um pouco mais puro e bom, como é o idiota Michkin. Mas os bons e puros são enfim, idiotas.
Ler livros ditos "enormes" é uma tarefa deliciosa, apesar de ser as vezes cansativa. E ler um livro "enorme" de Dostoiévski deve ser em particular um trabalho meticuloso e delicioso, ainda. Seja por tentar não se atrapalhar com os nomes dos seus personagens, seja por tentar acompanhar, com fôlego, cada mergulho que ele dá na alma Humana.
Tenho apenas pouca experiência com o velho Fiódor Mikhailovich Dostoiévski, começada anos atrás, numa versão de bolso de um livro pequeno de quase 300 páginas chamado O Jogador. Foi comprado num acesso fútil de consumismo, eu assumo. E por motivos nada além de aleatórios escolhi o livro. Me senti interessado pelo que um russo do século XIX poderia me dizer. Mas desde então fui quase que sugado inteiramente no consumo desse livro...E depois de empanturrado de toda a grandeza e toda a miséria humana, eu pensei em ter mais disso.
O segundo contato se deu num supermercado. Livros são caros, e sei que às vezes vale a pena pagar mais. Mas ainda assim, comprei a minha cópia de Crime e Castigo por míseros R$8,90. Ainda era meu Dostoiévski, pequeno, atarracado, grosso e sem jeito. Capa feia e páginas ruins de manusear. Mas ainda assim, era o meu Dostoiévski...E depois de ler essa obra-prima do mestre (em acessos de tédio das férias e depressão causados por um ano ruim da universidade) tornei-me um apaixonado pela sua literatura. Uma paixão a segunda vista, mas ainda com pouca base para se tornar uma fixação. Ou muito pouco para que eu fosse digno de dizer-me fã.
A terceira compra foi ocasional. Fui comprar um livro. "Acabou de fechar". Fui em outro lugar. "Tem Dostoiévski?". Foi o primeiro nome que pensei. "Tem sim...". O Idiota, R$54,00, Editora 34. Ensacado e levado pra sala de aula, ficava brincando com ele. Dando olhadelas e sorrindo pra ele, com uma vontade enorme de abrir aquele colosso na frente da professora e mostrar pra ela que a porra da aula que fosse pra casa do caralho, eu tava com meu Dostoiévski.
Mas ele ficou no canto...Aliás, na cabeceira. E desde 06/07 eu não tocava nele. Nem tinha passado do primeiro capítulo e já tinha largado ele no canto. Coisas e coisas e coisas depois, cá estou eu de volta com ele. E pretendo começar já. Um prazer programado que é ler aquilo que você gosta descomplicadamente (que apesar de tão profundo assim, seus livros são diretos e claros. Uma clareza assustadoramente bela).
Vai ser bom ler um livro enorme. Vai ser bom ver mais coisas sobre Dostoiévski lançados autobiograficamente em seus livros. Vai ser bom me desligar um pouco das coisas do dia a dia e ler, ler, ler, ler, ler...
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