segunda-feira, dezembro 29, 2003

vai, esse é o último do ano.

depois de um desastroso natal, tomara que o ano novo seja interessante. não que eu vá aqui despejar desejos, planos, re-so-lu-ções, enfim, qualquer coisa que faça parecer que eu ache que ano novo é alguma coisa, afinal, é só mais um feriado, é só o dia internacional de trocar de folhinhas e de agenda, é só o dia de vestir branco, beber champanha e cumprir rituais esquisitos, é só uma quarta-feira como qualquer outra. o dia é o mesmo, as pessoas que ficam diferentes.

mas desisti de passar no ano novo um repeteco do natal cama-mesa-banho-internet-jamie-oliver-na-tv. e já me custou caro por isso. dez de reáu, R$10,00, dez contos, dez pais, dez coins. mas vale a pena, é pra bolo, lasanha, salgadinho e vódega êslouva no gárgalo. e mais prêmio krakóvia pra embalar a risadagem (eu tou concorrendo, torçam por mim). reveilão hedonista é o que eu quero e se já paguei dez tocos, eu hei de ter!

(instant resolution de fim de ano #1: ver 2004 chegar na esbórnia, debaixo dos fogos da orla.)


não tem nem o que desejar para 2004 para mim. porque não é porque o calendário comemorativo da DESO em homage ao Florival Santos vai sair daqui da mesa e talvez dar espaço para um calendário da Emsergás ou da CODISE que o ano vai ser melhor. a universidade ainda continua do meio, minha fossa ainda continua do último episódio e não vai ter mais filme do senhor dos anéis.

ainda assim, um bom 2004 pra vocês. se esbaldem em seus reveilões. aproveitem a quarta-feira.

(ah! e antes que eu esqueça: instant resolution de fim de ano #2: ver aline pelada)


sexta-feira, dezembro 26, 2003

então você se joga de cabeça rumo ao fundo do poço. e já não bastava a angústia de todo o tempo que demora pra você chegar ao fundo, quando o seu corpo bate no solo, você ainda ouve aquele ruído oco. "ué, mas não é aqui o fundo do poço?". no fundo do poço tem um poço. tem um poço no fundo do poço.

quarta-feira, dezembro 24, 2003

feliz natal



a equipe do Ai! Minha Santa Aquerupita! deseja a todos um bom natal.
coisa que a equipe do Ai! Minha Santa Aquerupita! vai tentar ter a partir de agora.

faça o seu em www.JesusDressUp.com


só quando esses feriados chegam perto que você nota o quão danoso são os filmes de Meg Ryan. porque não é só por causa que o mocinho olhou no olho da mocinha que tem que rolar beijo. e no final não necessáriamente você é a Meg Ryan beijando o Mathew Broderick. você pode ser o cara todo engessado, falido, abandonado e empolado de alergias.

e o pior: sem ninguém pra te coçar.

é cata, tirei de nossa conversa e valeu pela correção.

segunda-feira, dezembro 22, 2003

eu não aguento mais ficar rasgando, arrancando, quebrando e esmagando cada pedaço que sobrou da minha vida. e não aguento mais ter que aguentar todo o tranco, toda a força, toda essa coisa que vem vindo e chega sem eu querer nem esperar. e fica cada vez mais fácil e comum sair dos eixos, perder a cabeça numa coisa qualquer. é melhor me perder em álcool e ter que ser o bobo da corte e ter que divertir, porque só assim - talvez por osmose - eu me divirto e consigo ver além do palmo de escuridão que embota a minha vista e que me impede de ver futuro, saída, ou luz no fim do túnel. pois então que seja assim, porque se dá pra se afastar cada vez mais de mim, que eu me afaste. que eu esqueça quem eu sou, porque continuar sendo isso dói demais e me deixa cada vez mais angustiado. ou aterrorizado, para ser mais dramático.

e qualquer coisa mais escapista fica fadada a ter milhões de olhos e milhões de bocas perseguidoras, porque o tal "cárcere do ser" (obrg déba) fode neguinho adoidado, mas tentar sair disso é dar a cara à tapa e o cu à pica porque sabe-se lá com qual razão cada um que te rodeia é teu carcereiro e sua âncora afundada na lama. e é preciso desprendimento, porque são todas as referências de uma vida inteira, todos os sonhos de uma pessoa e todos os planos de seu esquema. mas vá lá, isso não é nada pra quem já teve de se despojar de tanto peso na alma, pra quem teve de jogar todas essas coisas fora isso não é nada trabalhoso não. o pior é tentar continuar, porque sonhar no futuro do préterito parece poético, mas a tristeza só é esteticamente bonita pra quem vê de fora as modelos magras-secas-de-lápis-no-olho fazendo biquinho e se dizendo chorosa "ai como sou triste". mas eram tanto sonhos bonitos, tantas coisas felizes, tanto tempo pensado e esperado. mas às vezes caí a luz no meio do filme, e só resta esperar com uma vela sozinho no escuro até que a luz volte a tempo de você não perder o final feliz.

mas cá entre nós, de que vale esperar o final feliz se você já nem sabe mais quem ficou com quem, como o mocinho conseguiu pegar o bandido, e que enquanto o filme rolava e as coisas se ajeitavam, você estava no escuro, sozinho, com uma vela na mão e com medo de ver se o problema é na caixa de energia e morrer eletrocutado?

enfim, tudo desandou e eu estou com medo.
larguem da minha mão.

domingo, dezembro 21, 2003

preocupações russas

quase alcançando o vigésimo primeiro ano de vida e sem um lampejo de vida que fosse mais brilhante que o mediano, o padrão. porque cada vez mais eu me preocupo com coisas que não deveriam preocupar pessoas como eu. preocupações do século passado, preocupações russas. porque eu sei deep inside que me falta aquele lampejo que faz as pessoas brilharem mais na multidão, aquela faísca que se lança da alma das pessoas em direção das coisas que elas fazem. me falta a originalidade que fazia falta aos meus queridos russos, me falta a genialidade que fazia inveja nos meus queridos russos.

e o que faz isso doer ainda mais é porque eu sei, e não é prepotência, que eu sou inteligente, ou que pelo menos não sou um absorto inerte. meu teste de q.i. me dá provas irrefutáveis de que pelo menos eu tenho algo aqui na cachola, batendo-se contra a caixa craniana. mas esse algo não passa nem de ser um potencial, nem um talvez. e isso me angustia, porque pra quem já não tem o good looks, uma boa cabecinha superior e pensante faz uma falta angustiante. claro que todo mundo quer ser um jênho, e eu talvez não seja nem original nisso.

mas talvez ser um cabeção me incomodasse ainda mais. porque eu penso muito e pensar muito leva à dores de cabeça e reservas morais desnecessárias. um "foda-se" cairia muito bem agora.

então, pra tudo e pra todos:

FODA-SE


quarta-feira, dezembro 17, 2003

eu gosto de escrever contos. desses bem pequenininhos, de uma página de caderno. e gosto especialmente de escrever durante minhas aulas, quando nem ao menos meu corpo fica quieto na sala, quanto mais minha cabeça. mas esse especialmente é um conto estranho, porque foi começado no semestre passado em uma aula de psicopatologia geral, e terminado no meio de uma aula de psicologia e linguagem. tirando o gap que temporal, você pode achar que não faz diferença alguma, mas faz sim. os intuitos são diferentes quando você voa em uma aula de psicopatologia geral e quando você voa em uma aula de psicologia e linguagem. mas isso é assunto para outro post. enfim, é um texto torto, desafinado, fora de tom. porque os contos podem ser assim. desafio vocês encontrarem onde é que o texto foi continuado.

quedava-se por aquele sentimento. gostava de dizer: sou assim! sou feliz! sou, sim! e saia de um canto a outro, sempre a afirmar que era, e era!
era assim que subia o mundo, nem tão restrito às minhas ladeiras e becos e quebradas. subia como numa roda-gigante, girando a dizer que era assim feliz, sim. e era! porque não?
saia a pinote, abria os braços, voava. de cá a cá, de lá a lá. sobrevoava as casas, os prédios, as cisternas e caixas-d'água, a cidade toda. e era assim, porque não fazê-lo?
caia no chão, ralava o joelho. lágrima? não! arretado que era, batia no peito, engolia seco, abria a boca a gargalhar! ?sou assim! sou feliz! sou sim!?. e raspava o chão num rasante veloz. era sim, e todos viam!
a mãe era doce. queixava-se dele, mas normal. porque menino que voa não é mole não! e os pés fincados em raiz no chão a impediam de ver, e crer, que seu filho era tão mais que os outros, tão feliz, que largava as pernas na rua atrás de bola, dançava rindo no ar e fazia gol de cabeça em qualquer jogo que se metia na vida.
das minhas ladeiras e becos e quebradas eu o observava. e com a mesma intensidade que ele dizia orgulhoso que era feliz, sim, eu sentia no peito o aperto que o peito sente quando a vida não nos presenteia com o dom de voar. porque meus pés pequenos e rachados de topadas e pedrinhas da rua não dançam no ar nem brincam com a gravidade. só largavam vôo pra brincar de amarelinha.

sexta-feira, dezembro 12, 2003

eu não consigo escrever. agora sim eu travei definitivamente.
e com duas balas no pente ainda, ou dois pedaços de texto salvos em draft, durante tentativas ridiculamente frustradas pela minha incapacidade de focar e deixar as palavras fluirem apenas. nem um texto na minha querida técnica de vomitar palavras aleatóriamente sai.

não é um texto de desculpas, porque nem isso eu conseguiria escrever. travei, só falta surtar.

quarta-feira, dezembro 10, 2003

foram apenas 72 horas. tempo suficiente para alguns insetos cumprirem seu papel na terra e deixarem sua marca invisível num canto qualquer de um lugar qualquer. tempo suficiente para as amebas se multiplicarem em gerações e gerações de amebas que pontualmente se mostram o quão inócuo é o tempo para certas coisas.

porque o tempo é inócuo para dizer chega pras mudanças que não dão tempo para eu mudar. ou pelo menos me acostumar.

e então você acorda e dorme em 72 horas o tempo suficiente para perceber que nem sonhar interessa quando a vida é um devaneio maior ainda do que seus sonhos regados a tubarões voadores, baratas gigantes e mortes repetidas ad infinitum . e você acorda e vê o dia começar o mesmo, mas de um jeito diferente. você acorda no mesmo corpo, com a mesma alma de ontem e anteontem e estrutura cognitiva intacta, mas num mundo que é o mesmo e não é ao mesmo tempo o seu mundo. porque o ar tem um gosto diferente. porque as pressões atmosféricas que tendiam a comprimir seu corpo agora escolheram cantos diferentes para incomodar. porque você vê as mesmas pessoas, mas sem sair do lugar.

como se o mundo girasse e você perdesse a carona. ainda um extranho num mundo de hoje, quando sua cabeça ainda funciona ontem e seus sonhos são no futuro do pretérito.

mas você perde e ganha braços, lembra e prova lábios, senta e sente-se bem, esperando os panos levantarem, as luzes apagarem, e projetarem você numa tela, coadjuvante de seu próprio filme. provando a pipoca que engordura suas mãos de lembranças pegajosas e fétidas de mofo e naftalina. sugando dum canudo fino cada mágoa, cada abandono, cada frustração, diluídas em lágrimas carbonadas de um refrigerante. tendo que incômodo se acomodar e assistir na última fileira - talvez a única - o que fazem de você enquanto você perdeu o controle.

mas você divaga e vê que pode ser bom. que um sorriso largo pode aparecer em e para você. que uma palavra pode sair de um outro mundo e cruzar o seu caminho. que a paixão pode queimar-se toda e consumir sóis inteiros e depois deixar apenas cinzas onde deveriam ter músculos pulsantes a bombear o vermelho que enrubesce sua face num dia de frio.

faz frio, e é quente. e de nada adianta chorar.

segunda-feira, dezembro 08, 2003



novidade nos links ao lado

agora você pode conferir algumas fotos bizarras de coisas bizarras que fazem parte do meu mundo. meu caderno, com seus desenhos, rabiscos, referências radioheadeanas e originais da incrível e.l.p.b., e minha coleção primavera-verão - outono-inverno de camisas, com dizeres sábios e palavras de felicidade. tudo isso aqui.

um pequeno preview:



minhas camisas, com mensagens que falam de amor-próprio e amizade


essa foi a idéia original para os bonequinhos desse site, vale como referência histórica =)

quarta-feira, dezembro 03, 2003

naurÊa - circular cidade (ou estudando o plágio)

sai o primeiro disco da banda naurÊa, misturando forró, batucada, guitarras distorcidas e elementos de música eletrônica e pop num disco recheados de plágios bastante originais...

parecia um trabalho impossível para a naurÊa transpor todo o caos sonoro e energia que sempre demonstraram nos palcos para um formato mais "burocrático" e comportado de um álbum de estúdio, mas no disco de estréia da banda "circular cidade (ou estudando o plágio)" eles não só o fazem competentemente, como adicionam elementos à banda sem que isso descaracterize o estilo "esculhambado" da banda.

algumas coisas soam diferente, é lógico, como o andamento das músicas que ficaram levemente mais lentas, e o peso percursivo da banda, que já de antemão se espera que difilcimente seria captado com toda sua potência num estúdio. mas isso de longe afeta a sonoridade do disco, pois apesar de ser basicamente uma banda pra se experienciar ao vivo, o naurÊa supriu essas dificuldades do estúdio com a adição de elementos que por sua vez dificilmente seriam possíveis de reproduzir ao vivo na estrutura normal de um show do naurÊa.

são quinze músicas (e mais um segredinho ao final: a "música" rilísi, disponível apenas na primeiro demo da banda) que apreendem os melhores momentos do naurÊa, abrindo logo de cara com o crássico "bebo menino" (não, não é uma ode michaeljacksoneana) e segue o disco colocando um "hit" atrás do outro. as cotonetes não sentirão falta por exemplo de "r&b", "pra ingrês vê", "a peleja de lampião contra 007" e "d'o pop do forró" além do hino da naurÊa, bomfim, pra se emocionar e fazer roda com seus parentes em casa.

o disco conta ainda com participações especiais de artistas sergipanos reconhecidos como o percussionista pedrinho mendonça, o vocalista da maria escombona henrique telles, o guitarrista da snooze clínio jr., o rapper preto quente (ex- hot black), o showman-junkie edivan bilulu da falecida shovit e uma participação antológica "à la edson cordeiro" de amorosa castigando as cordas vocais (e os ouvidos e cristaleiras da casa). e mais um improvável arranjo de metais em arriba, que funcionou muito bem no disco, e uns loops e beats interessantes.

é forró pra todo mundo
é folguedo atemporal
é forró e um pouquinho de tudo
e daqui é universal


é forró pra todo mundo ver.
irônico?

a dita "ironia da vida" é uma ilusão falsamente criada por nós mesmos para dar um caráter mais especial a um fato simplesmente banal ou consequencial apenas para que esse fato (que, claro, se imbui de toda uma conotação e significação emocional bastante particular) torne-se mais especial do que já o é. afinal, quão mais especial as coisas podem ser quando são elas joguetes que a VIDA, essa entidade onipresente (menos entre os mortos) e suprema, faz contra a sua pequena e simples pessoa. um ar de importância.

porque contrariando o ó-tão-grande einstein, deus jogaria dados sim, e o que é pior, contra você. ou não contra, se você não é um ateu iradinho, mas digamos que a mão podre de deus te prejudica invariávelmente. porque a ironia da vida se volta pra você, e ela ri da sua cara enquanto você se estabaca no chão.

então acho que é isso. não é ironia. nada do que acontece é ironia. por mais tragicômico, ou apenas trágico. por pior e improvável. por mais bizarro que seja. não é ironia.

talvez as coisas tenham que ser assim, se você crê em destino.
ou as coisas ficaram sendo assim por uma simples causa primeva que se esconde atrás do tempo não-lembrado.

isso e tudo o que isso é. nada de especial, apenas o é.

mas não é ironia.

terça-feira, dezembro 02, 2003

às vezes rompe-se o invólucro que mantia a vida separada das coisas de morte.

porque as coisas de morte rondam tudo e permeia cada molécula suspensa no ar, cada faísca de coisa real, cada corda que tece as coisas como elas são. e as coisas de vida são presas dentro do que chamamos nós e eles. os outros são pacotes de vida ambulantes, espalhando essas coisas que fazem o ser algo mais arte, mais leve. mas há vida também são livres nas coisas de fora. em cada pedaço de coisa morta pipoca vida e folgueia suas labaredas em cada coisa que existe, a vida. porque a vida e a morte fazem o existir ser.

mas se elas estão aí, elas dançam separadas, mas são pares. pares que não se tocam, não se vêem (ou tentam não se ver), mas que ainda assim bailam juntos, sem sair do tom. sem pisar um no pé do outro. água e óleo num liquificador cósmico metafórico qualquer.separados pelo tênue momento em que um se aproxima do outro. separados pela tela que cobre as coisas de vida e pela pele que cobre as coisas de morte.

mas esse invólucro sagrado não é intransponível. nem indestrutível. e quando cinzas se espalham sobre as folhas ao invés do orvalho se nota que os mundos das coisas viventes se misturou com o seu antagônico. porque as vezes esse invólucro rompe-se em mil pedaços. deixando à mostra a tez da vida que se insinua nesse baile ao dedo frio e seco da morte, que toca áspero e fere a pele das coisas.

deve ser aí que reside o medo.