foram apenas 72 horas. tempo suficiente para alguns insetos cumprirem seu papel na terra e deixarem sua marca invisível num canto qualquer de um lugar qualquer. tempo suficiente para as amebas se multiplicarem em gerações e gerações de amebas que pontualmente se mostram o quão inócuo é o tempo para certas coisas.
porque o tempo é inócuo para dizer chega pras mudanças que não dão tempo para eu mudar. ou pelo menos me acostumar.
e então você acorda e dorme em 72 horas o tempo suficiente para perceber que nem sonhar interessa quando a vida é um devaneio maior ainda do que seus sonhos regados a tubarões voadores, baratas gigantes e mortes repetidas ad infinitum . e você acorda e vê o dia começar o mesmo, mas de um jeito diferente. você acorda no mesmo corpo, com a mesma alma de ontem e anteontem e estrutura cognitiva intacta, mas num mundo que é o mesmo e não é ao mesmo tempo o seu mundo. porque o ar tem um gosto diferente. porque as pressões atmosféricas que tendiam a comprimir seu corpo agora escolheram cantos diferentes para incomodar. porque você vê as mesmas pessoas, mas sem sair do lugar.
como se o mundo girasse e você perdesse a carona. ainda um extranho num mundo de hoje, quando sua cabeça ainda funciona ontem e seus sonhos são no futuro do pretérito.
mas você perde e ganha braços, lembra e prova lábios, senta e sente-se bem, esperando os panos levantarem, as luzes apagarem, e projetarem você numa tela, coadjuvante de seu próprio filme. provando a pipoca que engordura suas mãos de lembranças pegajosas e fétidas de mofo e naftalina. sugando dum canudo fino cada mágoa, cada abandono, cada frustração, diluídas em lágrimas carbonadas de um refrigerante. tendo que incômodo se acomodar e assistir na última fileira - talvez a única - o que fazem de você enquanto você perdeu o controle.
mas você divaga e vê que pode ser bom. que um sorriso largo pode aparecer em e para você. que uma palavra pode sair de um outro mundo e cruzar o seu caminho. que a paixão pode queimar-se toda e consumir sóis inteiros e depois deixar apenas cinzas onde deveriam ter músculos pulsantes a bombear o vermelho que enrubesce sua face num dia de frio.
faz frio, e é quente. e de nada adianta chorar.
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