eu gosto de escrever contos. desses bem pequenininhos, de uma página de caderno. e gosto especialmente de escrever durante minhas aulas, quando nem ao menos meu corpo fica quieto na sala, quanto mais minha cabeça. mas esse especialmente é um conto estranho, porque foi começado no semestre passado em uma aula de psicopatologia geral, e terminado no meio de uma aula de psicologia e linguagem. tirando o gap que temporal, você pode achar que não faz diferença alguma, mas faz sim. os intuitos são diferentes quando você voa em uma aula de psicopatologia geral e quando você voa em uma aula de psicologia e linguagem. mas isso é assunto para outro post. enfim, é um texto torto, desafinado, fora de tom. porque os contos podem ser assim. desafio vocês encontrarem onde é que o texto foi continuado.
quedava-se por aquele sentimento. gostava de dizer: sou assim! sou feliz! sou, sim! e saia de um canto a outro, sempre a afirmar que era, e era!
era assim que subia o mundo, nem tão restrito às minhas ladeiras e becos e quebradas. subia como numa roda-gigante, girando a dizer que era assim feliz, sim. e era! porque não?
saia a pinote, abria os braços, voava. de cá a cá, de lá a lá. sobrevoava as casas, os prédios, as cisternas e caixas-d'água, a cidade toda. e era assim, porque não fazê-lo?
caia no chão, ralava o joelho. lágrima? não! arretado que era, batia no peito, engolia seco, abria a boca a gargalhar! ?sou assim! sou feliz! sou sim!?. e raspava o chão num rasante veloz. era sim, e todos viam!
a mãe era doce. queixava-se dele, mas normal. porque menino que voa não é mole não! e os pés fincados em raiz no chão a impediam de ver, e crer, que seu filho era tão mais que os outros, tão feliz, que largava as pernas na rua atrás de bola, dançava rindo no ar e fazia gol de cabeça em qualquer jogo que se metia na vida.
das minhas ladeiras e becos e quebradas eu o observava. e com a mesma intensidade que ele dizia orgulhoso que era feliz, sim, eu sentia no peito o aperto que o peito sente quando a vida não nos presenteia com o dom de voar. porque meus pés pequenos e rachados de topadas e pedrinhas da rua não dançam no ar nem brincam com a gravidade. só largavam vôo pra brincar de amarelinha.
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