O Novo Dicionário Etimológico-Idiomático Brasileiro.
Introdução:
O trabalho de etimólogo está mais próximo do trabalho de um arqueólogo do que do trabalho próprio dos outros lingüistas. Procurar a origem ancestral das palavras é de um labor árduo e por vezes impossível. É mexer com encadeamentos improváveis e desenterrar famílias inteiras de línguas que já estão mortas há muito tempo. É remontar raízes que já se perderam fundo no seio da terra, às vezes literalmente, porque se não é um trabalho arqueológico propriamente dito, às vezes o etimólogo tem que desenterrar seus pergaminhos quando não do fundo de ruínas, de bibliotecas pútridas e esquecidas.
Quando se trata de línguas neo-latinas o trabalho é por vezes encarado como fácil, já que grande parte do vernáculo estudado tem uma origem bastante conhecida e amplamente divulgada, e de dentro do seio de inatividade do atual meio acadêmico, muita das teorias etimológicas são preguiçosamente apoiadas apenas nas palavras de origem romana (no máximo palavras de origem helênica) e assim são relegadas muita das expressões que aparecem de uma raiz obscura. No caso do português brasileiro, o trabalho é geometricamente aumentado, por ser uma língua que há muito se distanciou da sua raiz "pura" portuguesa original e tomou um rumo novo e diferente ao se misturar com influencias de vários países, culturas, dialetos e etc.
Nesse ponto, o trabalho do etimólogo é por vezes infrutífero pois várias das ligações que as palavras tem em sua origem nascem de civilizações há muito dizimadas, e muito da história se perdeu. A interação entre culturas e línguas diferentes é por vezes tão disfarçada pelos desígnios do Tempo que sua ligação é totalmente desconhecida e improvável, e por vezes risível.
O presente trabalho buscará encontrar através de provas irrefutáveis - na medida do possível - essas ligações perdidas e mostrar de maneira didática e simples a etimologia das palavras que são por vezes relegadas ao ostracismo acadêmico e não são estudadas devidamente.
Expressões Idiomáticas Brasileiras:
fu.le.rar [V. int.] - essa expressão característica do nordeste brasileiro, mais especificamente da Zona da Mata, teve origem bastante obscura por diversos anos até a introdução da pesquisa de campo em seu estudo etimológico. Essa idiomátema tem como origem nos arredores da cidade de Natal, na base militar apelidada de Parnamirim Field, durante o período da Segunda Guerra Mundial. Durante os anos de 1941 a 1946, milhares de americanos embarcaram em Natal para utilizar as bases militares Natal e Parnamirim, cedidas pelo governo brasileiro. A base Natal, por ser a mais importante e maior, tinha um controle bastante rígido de conduta e uma discrição que enchia de curiosidade a população local. Pouco distante dali, no povoado de Parnamirim, a base militar "Parnamirim Field" estava mais em contato com a sociedade, e muitos soldados acabavam por se misturar à ela de maneira lasciva e/ou irresponsável. "Eles vinham pras festa e ficava se bulinando com as meninas" (sic), rememora seu João Freitas, que na época era um garoto ainda. O trabalho etimológico nunca teria avançado caso a pesquisa com a população fosse relegada ao invés da pesquisa com documentos, pois "fulerar" viria dessa relação inusitada entre os militares americanos e a população local.
Assim como "forró" viria a ser uma corruptela de "For All", "fulerar" é também uma corruptela sonora de uma expressão em inglês. Nos idos da ocupação militar americana na base de Parnamirim, devido à reincidência de "escapadas" dos quartéis e de comportamento inadequado, ficaram famosas as reprimendas em alto e bom som dos oficiais que repetiam "Don't Fool Around" aos irresponsáveis soldados e funcionários. De "fool around" (lê-se fu-lâ-ráum) os nativos, por imitação, acabaram chegando ao atual "fulerar" ao repetir precariamente as reprimendas em tom de gozação, ou apenas como uma maneira de se sentir "superior" perante seus pares. Esse verbo-frasal inglês significa comportar-se de maneira irresponsável e sem cuidado para com as pessoas, uma coisa interessante, já que a sua corruptela manteve o mesmo significado.
Esse caso mostra o quão complexo é o estudo etimológico e como ele é uma maneira de descobrir como outras culturas se entremeiam no próprio tecido de outra sociedade, e se a linguagem é a expressão maior de uma dada cultura, é urgente e importantíssimo esse estudo. Aguardem para as próximas descobertas. [ism]
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