sexta-feira, março 19, 2004

falar é uma maneira terapêutica de encarar momentos difíceis na vida. encarar os problemas de frente muitas vezes podem ajudar também, mas o simples reportar do que está assombrando sua cabecinha já é uma maneira eficiente de sentir melhoras. nem que seja chorar no colo de alguém e despejar todos os demônios e maldições entre soluços enquanto o ouvem calado. isso parece estar ligado ao fato de que a fala é positiva e é um dos atos que causam mais conforto. a fala é um mecanismo enormemente poderoso e podem ativar os mesmos centros cerebrais do hemisferio esquerdo que quando em baixa atividade parece causar problemas como a depressão. nosso cérebro assimétrico além de nos "causar" habilidades possíveis apenas nos primatas superiores nos deu a autoconsciência e a capacidade de construir a fala tão elaboradamente e com processos bilaterais independentes em cada hemisfério. mas essa mesma bilateralidade independente que nos deu essa plasticidade imensa na fala nos causou o desequilíbrio estável onde se esconde talvez um lar para a melancolia e tristeza.

e se nas palavras existe toda essa força, é mais difícil ainda poder se ajudar se nem elas conseguem sair. como num pote tapado com o peso todo dos dias de solidão e desagrado (que pesam muito, sim). as palavras travam, saem secas, mortas, pálidas. saem doentes também, carregando um pouco do que não as deixam sair ao passar pela barreira quase impenetrável do silêncio que se instala em nós na solidão. um silêncio barulhento. um silêncio quase como num sinal estático. que nem é bem uma ausência de som, mas uma ausência de contato com você mesmo. quando o que você tem é a tentativa, mas não o ato. o processo existe, mas para por um segundo e esvaece no ar enquanto o silêncio te rouba o ar como se fosse vácuo.

eu não consigo escrever o que eu quero.

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