domingo, setembro 07, 2003

sete de setembro.

eu tenho uma lembrança muito boa de sete de setembro. não vou dizer nada sobre patriotismo ou sentimentos nacionalistas porque realmente não me encaixo nesse perfil. pra mim, tudo foi uma encenação das mais típicas da américa do sul. coisa da televisa. e meu sentimento patriótico não vai muito além de gostar de viver na minha casinha desde que nasci. mas bem, vamos à lembrança.

sete de setembro pra mim era ir pro interior. pra casa dos meus parentes maternos, em Lagarto. nas grandes cidades é um costume muitas vezes inexistente ou até relegado para alguns gatos pingados, mas no interior o desfile de sete de setembro é um evento na cidade. em Lagarto especialmente (por ser o único lugar onde experienciei isso) o sete de setembro é bandinha das escolas da cidade desfilando na única avenida da cidade (bem, não única, mas maior) e todo o rol de coisas de desfile, como as porta-balizas e os estandartes das escolas. não tinham carros alegóricos, era uma coisa miudinha, mas cheia de um glamour caprichado e que mostra o trabalho do ano inteiro pra fazer um belo desfile. dava pra ver nos "doirados" e nos prateados, nas rendas e nos bordados, o suor de uma gente que se esforçou o ano inteiro pra fazer um desfile bonito.

minhas primas, as filhas da minha tia Nane, sempre desfilavam. na bateria, como porta bandeiras, etc. ou seja, sempre tinha alguém pra procurar com os olhos bem abertos, câmeras em punho. minha bisavó morava na avenida com meu bisavô e minha tio-avó. ela desde cedo punha cadeiras na porta para "guardar lugar" porque à tarde, estaria apinhado de gente pra ver as bandinhas e as meninas e os meninos desfilando no sete de setembro. Vovó Delice, como eu a chamava, tinha as mãos muito enrugadas e era muito doce comigo. Especialmente comigo, eu sempre achei. E tinha sempre surpresas pra nós quando íamos pra lá, como o "trocado pro sorvete" que sempre era bem mais que o nome sugere e tinha docinhos, maniçoba, majongome e a "carninha durinha" que ela fazia e eu adorava.

tinha pipoqueiro e doceiro nas ruas. tinham as crianças da minha família, que como eu implorava pelos doces e pela pipoca depois que cada bloco passava. eu reclamava sempre pra não ir. mas chegando lá a coisa era outra. me divertia e até hoje sinto uma coisa muito boa quando escuto as marchinhas que tocaram nos meus setes de setembro. era um corre corre pela manhã pra nos arrumarmos e pegar nosso camarote do lado de minha bisavó, que não perdia um desfile.

eu tinha medo dos moços dos bumbos que giravam as baquetas e tocavam cada um com uma técnica e uma maneira toda especial. eu tinha medo dele me acertar na cabeça e eu morrer ali. eu morria de medo e minha mãe concordava "sai de perto do meio-fio menino". mas eu sempre quis ser como um daqueles. e girar as baquetas amarradas em tecidos nas minhas mãos. quem sabe um menino também quisesse ser como eu? quem sabe eu fosse alguém pra se espelhar? eu sempre quis ser "o moço do bumbo" algum dia (não, nunca fui).

sempre nosso sete de setembro significou pra mim o feriado nacional pra ir pra calçada ver o desfile. mas depois que meu bisavô foi embora, e um certo tempo depois minha vovó delice, todo sete de setembro é igual ao oito de outubro ou o quinze de fevereiro. é um dia qualquer.


hoje eu joguei cartas e chequei meus e-mails.

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