o banho. um ritual comum a todas as sociedades (umas mais devotas e outras nem tanto). o ato de limpar o corpo, geralmente com água (ou leite, vide Xuxa) e sabão (ou sabonete, se preferir).
o banho no final de minhas terças-feiras é um evento sublime da minha experiência. Um ritual sagrado e meticuloso. Um fenômeno orgasmático e demorado. Porque é quase divina a sensação de extirpar todo o peso e o sebo do dia de minha pele. Extirpar aquela sensação quase gordurosa e sulfurosa que chega a imprimir na alma uma cobertura visguenta de inquietação e desprazer. O gosto ácido e azedo que impregna a boca do ar carregado de fuligem e desagravo, do mormaço que sobe do chão sujo e desgastado pelas chinelas que se arrastam no vai-e-vem ocupado do dia inteiro.
Um banho depois de tanto tédio e tanta raiva, depois de tanta terra e tanta fumaça, de tanto andar e desandar. Um banho para arrancar a tarde como se arrancasse uma segunda pele de mim. Um banho pra esquecer, e deixar fluir pelo ralo o que me destrói um pouco a cada dia. Um banho para afogar em água quente o fantasma da terça-feira finda, e ver na espuma que escorre lentamente um pouco do eu que sobrou.
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